terça-feira, 23 de outubro de 2012


Santa Iria de Azóia, 2 de Maio de 2010 -  A Mata, diga-se em abono da verdade, tinha uma toponímia, no mínimo, curiosa. Eu creio que o inventor da toponímia matense foi um senhor de nome Manuel Luís - a tuberculose levou-o tão cedo! – que era acordeonista e que com a chegada da electricidade à Mata, também se tornou electricista.
     Que foi Manuel Luís o contratado para pintar os rectângulos e desenhar as letras, não tenho quaisquer dúvidas. Já no que à autoria concerne, tenho as minhas dúvidas, que não são muitas, porque a Mata não teve nenhuma rua Professor António de Oliveira Salazar, nem Almirante Américo Tomás, nem com qualquer outro nome sonante do regime deposto, em 25 de Abril. E este facto não deixa de ser extraordinário, se se atender à circunstância de os regedores e os membros da junta de freguesia serem pessoas alinhadas com o regime. Não escreverei aqui, até porque já dormem o sono eterno, o nome de nenhum dos serventuários do salazarento regime.

     A única rua que tinha um nome histórico era a 1º de Dezembro, porque as restantes tinham nome dos santinhos da devoção do povo e outra do Espírito Santo.
     S. Pedro e S. Sebastião tiveram direito a rua e travessa e a Santa Margarida, na sua qualidade de padroeira, teve direito à rua maior e mais larga, ainda que só o 25 de Abril a viesse a calcetar, bem como as restantes do Entrego, ou seja, todas as ruas da Mata situadas para além da Igreja Matriz.
     Nos últimos anos a coisa mudou: já havia a rua Melo Sanches e também a Professor Lucas Falcão. Não vou discutir a justeza da atribuição daqueles nomes a ruas da Mata, porque ambos foram pessoas muito importantes e à Mata ligados. O segundo até era o meu padrinho do crisma e a boca de um afilhado deve manter-se calada, mesmo quando possa discordar de tal atribuição. A Torre do Tombo, se alguém lhe tivesse perguntado, provavelmente, daria uma excelente resposta.
     Os últimos baptizados, o Centro Cultural e uma nova rua ou avenida, receberam o nome do senhor Presidente da Cãmara Municipal e de um senhor Botelho, de não sei donde; um, decerto, por ser Presidente e amigo da Mata; o outro, porque terá facilitado a construção da semicircular, que também dará continuidade à via que há-de ligar a Mata a Idanha-a-Nova, quando a ponte vier a ser feita. Boas razões, portanto.
     O bom povo da Mata, que sempre foi muito ordeiro e obediente, premeia sempre, com imensa justeza, aqueles que lhe fazem bem. E desta vez… Desta vez, como habitualmente, tudo voltou a acontecer sem surpresas.    

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