domingo, 28 de abril de 2013

SONETO

Ó serra acolhedora e maternal,
De onde emana bem-estar e fresquidão,
Tua beleza suave e natural
Causa-me permanente admiração!

Os meus olhos em ti poiso e descanso,
Descobrindo, aqui e ali, novidades.
(No mar, o pôr-do-sol! O teu remanso!)
Longe de ti, ó serra, as saudades

Depressa tomam conta dos meus dias!
Por isso quero estar perto de ti,
Arrábida, extremosa mãe de Gama,

Onde tanta alegria já senti.
Este fogo tão vivo, sempre em chama,
É o sinal verdadeiro de quem te ama.

sábado, 27 de abril de 2013

MARIANA ALCOFORADO
imagem da wikipédia

Era verão… E Mariana ardia,
Na fresquidão
laustros.
Caóticos,
Os seus pensamentos voavam,
Voavam sobre as montanhas,
As planícies e os rios.
Em vão procuravam
O cavaleiro Chamilly.
De seus olhos negros,
Lágrimas apaixonadas caíam.
Lágrimas sentidas,
Que Chamilly jamais veria.
E na fresquidão dos claustros
Mariana ardia… ardia…

sexta-feira, 26 de abril de 2013

QUADRAS DE A-BEM-DIZER

Corre a vida de feição
À canalha do costume;
Quem trabalha não tem pão
Nem cavacos para o lume.

Com a troika em Portugal,
A pedido de Gaspar,
Já me cheira tudo mal,
Já não posso respirar.

Vou cavar deste país,
Que esta gentinha é brutal;
Ai, tudo o que faz e diz
Traz dentro a marca do mal!

Vou de novo pra Paris
E fico por lá de vez.
Com estes tratantes vis
É ‘ma arte ser português.

Esta gente rasca e rara,
Que governa Portugal;
Tem o gozo, tem a tara
De nos tratar sempre mal.

Esta gente tinta e três
Não gosta da sua terra.
Por vingança e mesquinhez
A nossa Pátria enterra.






SONETO

Não sei o que farei com tanto amor,
Se partir for a tua decisão.
Desmedida será, decerto, a dor;
Letal será, decerto, a solidão.

Fazes-me falta, Luz, fazes-me falta   
Para iluminar meus cansados dias.
Meu pobre coração no peito salta
E não mais terá paz nem alegrias.

Meu luto aqui farei, inconformado.
- Quem pode aceitar tal destino, amor? -
Não partirei sem ter chorado a mágoa

De me deixares triste e inconsolado.
Não partirei sem ter chorado a dor,`
Ó amada!, ó causadora desta frágua!



DO MEU DIÁRIO

E que pensas tu, Luiz Vaz?

Santa Iria de Azóia, 26 de Abril de 2013 – Cavaco Silva, que há anos confessou não saber quantos cantos têm Os Lusíadas, falta-lhe dimensão cultural, e também humana, para o exercício da chefia do Estado. Mas há outras dimensões que também não possui, decorrentes da falta das anteriores. Adiante.
     Se Cavaco quisesse ser o Presidente de todos os portugueses e não o presidente do PPD-PSD, nomeadamente desta deriva direitista que está actualmente no poder, há muito tempo que tinha despachado o senhor de Massamá, sem ofensa para o topónimo, e o seu ministro das finanças. Não deixaria que a degradação do país chegasse ao ponto a que chegou, conhecidos que foram os casos protagonizados por Relvas e quejandos.
     Não é o homem de que Portugal precisa, nesta curva tão apertada. Excessivamente comum, é incapaz de surpreender quem quer que seja. Portugal, decididamente é um país sem sorte. Portugal merecia melhor sorte!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 25 de Abril de 2013 – Em 24 de Abril de 1974, cumpria serviço militar obrigatório no BC-6, em Castelo Branco. Fui jantar com os meus pais à Mata, aproveitando a boleia de João Rolo, um dos meus melhores amigos, naquele tempo. Era quarta-feira e regressámos à cidade, a fim de aí pernoitarmos. Eu, no 6 de Caçadores; o João, na casa onde se encontrava hospedado.
     A viagem decorreu normalmente; porém, na Casa dos Cantoneiros, ou seja, no local onde a EN 240 encontra a sua irmã 233, a cerca de seis quilómetros da capital da Beira Baixa, a GNR levava a cabo uma operação de fiscalização, que só não era normalíssima, porque envolvia mais efectivos. Mas nada que pudesse indiciar o que estava guardado para umas horas depois. O João deixou-me à porta-de-armas daquela unidade militar e seguiu viagem.
     Por volta das três e meia, o Luís Geraldes, sargento de dia à unidade, entrou nas camaratas dos cabos-milicianos e disse:”vamos levantar cambada! Há um golpe de Estado em marcha! Toca a levantar!” Levantei-me imediatamente e dirigi-me ao bar, onde comecei a ouvir a música que horas antes era impensável ouvir na Emissora Nacional, ou lá onde quer que estava sintonizado o rádio. Parecia não haver dúvidas. O golpe era para derrubar a ditadura. As horas seguintes passei-as ali, com outros camaradas, com a esperança íntima que tudo corresse bem. E correu: finalmente a LIBERDADE!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

DISCURSO

     Muitos de nós que temos mãos e temos pés, muitos de nós que fazemos adeus aos comboios nas estações, muitos de nós que passeamos o conformismo pelas ruas da cidade, muitos de nós, um dia, talvez um dia, saibamos quão inúteis foram os nossos braços, as nossas pernas, as nossas bocas, os nossos ouvidos e os nossos cérebros.
     Talvez um dia, quando violarem o silêncio da nossa inutilidade e já for demasiado tarde, vejamos então como eram irreais os nossos primorosos raciocínios.
     Nesse dia, não haverá lugar para lágrimas e lamentações. Nesse dia, morreremos como cães: sem palavras, sem sonhos, acéfalos, loucos.

Nota- Este texto foi escrito na década de 70 do séc.passado. E foi-lhe atribuído uma "menção honrosa", nums jogos florais da CGTP. O 1º prémio foi atribuído a Domingos Lopes. O júri foi presidido por UTR.

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 25 de Abril de 1999 - Este ano decidi comemorar os 25 anos da Revolução de Abril. Ontem, fui a um jantar de sindicalistas e afins. Hoje, desci a Avenida da Liberdade com o povoléu. Dir-se-ia que retomei - mas eu nunca os abandonei! - os caminhos de Abril.

     No jantar de sindicalistas, encontrei velhos combatentes de muitas causas que, com mais anos em cima do pêlo, comemoram, contentinhos, as bodas de prata do dia da libertação. Uma excepção meritória: Marreiros Mendonça. Continua de ganga e libertário. Mas já sem brilho e algo resignado. Convocaram-se alguns mortos e repetiram-se lugares-comuns. Nicolau Catita voltou a dizer Régio. Rolando Teixeira, que falou sentado, disse coisas pertinentes, mas, na sua qualidade de convidado, foi prudentinho e educado. Carlos Santos e Nunes dos Reis, decerto habituados a melhores ementas, saíram antes do repasto começar.

     A Avenida da Liberdade encheu-se de povo e dos míticos cravos vermelhos. Gritaram-se gastas palavras de ordem e cantou-se a Grândola Vila Morena. Com pouca energia, diga-se. A começar por mim, a quem já vai faltando o pulmão.

     No Terreiro do Paço, subiram à tribuna os “habitués”: Reis, Proença, Tomé, Amado(a), Andrez, Silva(s), Lourenço. Todos de costas para o Tejo. Só Lourenço falou para rememorar a data e a gesta dos capitães.

     Só não percebi por que razão lembrou aos presentes o esbirro Milosevic. Então a comemoração não era só portuguesa?

     Apesar de tudo, 25 de Abril, SEMPRE!

PS – O Zé Pinho, que foi meu contemporâneo na FL, disse-me que vai abrir uma livraria no Bairro Alto.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O CRAVO NÃO MURCHOU

 

Dizer que o cravo murchou
É uma mera opinião.
Quem jamais Abril amou,
Não o traz no coração.

O meu cravo é encarnado
E vive dentro de mim.
De todos o mais amado,
Que outro nunca amei assim.

É o cravo da liberdade
que deu cor àquele Abril,
e que um dia ainda há-de
dar-nos alegrias mil.

A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA
 

     Às vezes, dou por mim a pensar nas cinzas da biblioteca de Alexandria e pergunto-me o que num só fogo perdeu a humanidade.

     Quantos séculos terá o mundo regredido por obra de um fogo? Esta é a pergunta clássica e inteligente, que todos os sábios fizeram.

     Há outra pergunta, talvez impertinente e talvez cretina, que ninguém ousou fazer: onde estaríamos hoje, se hoje ainda houvesse, sem o fogo de Alexandria?

in FRAGMENTÁRIA MENTE, 2009
ACERCA DOS LIVROS



1
De e com livros tem sido feita a minha vida:
Bons, maus, e assim-assim.
Neles, aprendi metade do pouco que sei;
Sem eles, não sei dizer o que de mim seria!

Outro homem, decerto, seria…

2
Com Fonseca, Manuel como eu,
No culto das musas me iniciei:
Ainda hoje vejo passar a tuna do Zé Jacinto
E me delicio com as alvas rolas,
Que Maria Campaniça escondia sob a blusa.

Por mil anos que um homem viva
Há metáforas que nunca morrem nem esquecem.

3
A prosa chegou com a colecção seis balas.
Só depois chegou Ferreira de Castro
E o seu casto português.
Fiz-me amigo de Manuel da Bouça e de Ricardo;
E, sobretudo, de Marreta e Horácio.

(E é chegado o momento de dizer,
Que se dane o espanhol que não quer
Referências culturais na poesia.
Que se dane pois o espanhol,
Cujo nome já esqueci).

4
Santareno
Veio ainda antes de Vicente!
Primeiro, o Édipo de Alfama;
Só depois, chegou o autor das barcas
e o pai de Antígona.

Franzino, António Martinho do Rosáro
Teve artes para ganhar a dianteira.

Em boa hora.

5
De e com livros tem sido feita a minha vida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO


Torres Vedras, 23 de Março de 1998 - Ontem, houve feijoada na Ponte Vasco da Gama. Afora mais dois mil bicos imprevistos, tudo terá decorrido bem.

     As televisões noticiaram amplamente o acontecimento que, estou certo, perdurará nas retinas dos portugueses. Artistas, políticos, engenheiros e povo, todos unidos, manducaram a feijoada da inauguração da nova menina dos nossos olhos. Espero que, entre os comensais, tenham estado presentes os familiares dos trabalhadores, que não tiveram a ventura de viver este dia.

DO MEU DIÁRIO


Lisboa, 28 de Agosto de 1997 - O que é a normalidade? O que é ser-se normal e /ou anormal? Eis uma das questões com que todos ou quase todos nos debatemos, no nosso normal dia-a-dia.

     Ser normal é aceitar e cumprir uma gramaticazinha social, que faz de cada um de nós um indivíduo submisso, indiferenciado e medíocre.

     Aquele que foge à tal gramaticazinha é, de um modo geral, apontado a dedo como anormal, maluco, marginal. Às vezes, aquele que ainda acredita no devir histórico chamam-lhe perigoso revolucionário.

     Ser normal é aceitar passivamente a morte. Ser normal é deixar-se sepultar na vala comum. Ser normal, no caso de um funcionário público, é correr o risco de ser nomeado chefe, director de serviços, director-geral.

domingo, 21 de abril de 2013

SANTA IRIA DE AZÓIA

A vila de Santa Iria
tem tanta tanta beleza...
È uma altiva princesa,
que o Tejo acaricia!

sábado, 20 de abril de 2013


SALOMÉ




Salomé
Só queria
Dançar
E encantar.

E mostrar
Os brincos
Que usava
No umbigo.

Oh,
Quisesse
Salomé
Dançar
Pra mim
………….
Ou comigo!



3 QUADRAS

Minha hora triunfal,
Como tardas em chegar!
Dá-me um verso genial,
Dá-me um verso de encantar,

Musa, dá-me inspiração!
Quero o meu canto com graça
E pleno de vibração
A marcar a hora que passa.

Um só verso bastaria...,
Perfeito e original.
Um só verso que faria
Minha ventura total.

in QUADRAS POPULARES, UMAS SIM, OUTRAS QUASE, FólioExemplar, 2013

sexta-feira, 19 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO



Santa Iria de Azóia, 19 de Abril de 2013 – José Saramago - autor de Levantado do Chão e de Memorial do Convento, mas também de O Ano da Morte de Ricardo Reis e do Ensaio Sobre a Cegueira -, é, provavelmente, o nome português mais universal, depois, claro, de Amália e de Eusébio. Ganhou o prémio Nobel da literatura e é considerado por Harold Bloom, autor de The Western Canon, como um dos maiores romancistas mundiais de todos os tempos.
     O grande economista, sim, aquele de que estais a pensar, na Feira Internacional do livro de Bogotá, esqueceu-se do autor do Tratado Sobre a Cegueira, numa atitude mesquinha e pouco consentânea com a defesa dos nossos valores nacionais. Mas alguém se lembrou de Saramago: Vasco Graça Moura, como Saramago poeta e romancista, que mostrou estar à altura das circunstâncias, e as entidades colombianas. Mas o facto de VGM não ter esquecido José Saramago, não faz apagar o pecado original.
     Poderá o grande economista ter muitas placas de inaugurações espalhadas pelo nosso rectângulo; porém, nunca serão tantas como os livros de Saramago espalhados pelas bibliotecas do vasto mundo. Curiosamente, falou de alguém que, sendo grande como escritor, foi autor de “Contas-Correntes”, que, no dizer de Batista-Bastos (tenho quase a certeza), são verdadeiros tratados de ódio. Tudo na ordem. Tudo certo!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

AS PALAVRAS
  
  

Calhou-me em sorte ter de folhear dicionários. De palavras tem sido feita a minha vida. Com elas tenho feito o que a imaginação me permite, pouco, certamente, mas tento dar-lhes, sempre, a leveza das frescas brisas estivais e permitir-lhes os mais ousados voos.
     Um dia disse, com papal solenidade, urbi et orbi, que com as palavras tudo faço: pinto o céu, pinto árvores, pinto frutos, pinto ruas e pinto casas. Às vezes, muitas, até pinto a manta. As palavras são o barro, a tinta, o mármore, a madeira - não deixarei aqui um preguiçoso etc. – com que vou recriando o mundo.
Com elas digo, todos os dias, a alegria, a esperança e o afecto; sem elas, não sei o que de mim seria. Outro seria, certamente.

Do livro de textos com poesia "Ao sabor dos dias", a publicar brevemente

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 18 de Abril de 2013 – Começo a ter muitas solicitações; e, não sabendo bem porquê, começo a ficar preocupado. Provavelmente, solicitam-me agora algumas colaborações e participações, porque me descobriram aposentado e terão pensado que tenho mais tempo livre. Talvez.
     Foi a semana da leitura, na Casa da Cultura de Santa Iria, com muito prazer; foi a sessão de autores naturais ou residentes em Santa Iria de Azóia, com muito prazer; é a participação na docência da União de Cultura e Acção, também em Santa Iria, com muito prazer; será, na próxima segunda-feira, na CURPISIA, ainda em Santa Iria, uma sessão sobre o 25 de Abril, com muitíssimo prazer.
     É certo que estive vários anos na direcção da prestigiada Sociedade 1º de Agosto Santa Iriense, recreativa e musical; é certo que pertenci à MAG da mesma colectividade durante muitos anos, onde ainda me cruzei com um vice-presidente da já referida MAG, chamado Jerónimo Carvalho de Sousa; é certo que pertenci ao único Conselho Municipal de Loures, em representação das colectividades de cultura e recreio do concelho; é certo que fui aceitando e declinando convites, tendo sempre por critério as minhas capacidades para o exercício das funções. É o que vou continuar a fazer, mesmo que, outros pensem que agora, aposentado, tenho mais tempo disponível.
     Não se trata propriamente de um “Amanhecer pelo fim da tarde” – título comprido mas sugestivo de um livro de poemas de Joaquim Carmo, que vai ser lançado, em Braga, no próximo sábado - que eu tenho intenções de chegar a velho. Mas se for, que seja!
    

quarta-feira, 17 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 17 de Abril de 2013 – O meu amigo Vítor Morais é um romancista, que tem apenas um romance publicado, mas que podia ter três, três ou mais, onde não faltaria o humor e a arte narrativa. O Vítor aventa a possibilidade de deixar a escrita, porque publicar e dar a conhecer o trabalho literário é tarefa cada vez mais difícil. E é pena, que o país precisa de humor e de boas histórias bem contadas, para vencer esta enorme crise, que parece querer-se tornar uma endemia.
     Retomo este texto, que interrompi ainda antes do meio-dia, que a Malveira chamava por mim. Almoço com o Vítor, que ainda transformou a parte final em “workshop”, porque pensava que eu não sabia fazer nada em matéria de cozinha. Lá tive de explicar que ainda antes dos vinte anos, na terra de Rabelais, aprendi a cozinhar com a minha mãe, por necessidade do nosso pequeno agregado familiar.
     Estes encontros nem contam pelo que se come e bebe; valem, sobretudo, pelo são ambiente e pela camaradagem. Pelo que vamos recebendo e transmitindo, em matéria espiritual. Ainda que a mesa, como observou, creio, frei Amador Arrais, seja um óptimo espaço de convívio. Ou, soit disant, a mesa ajuda ao diálogo, ao convívio à preservação e aprofundamento da amizade.
     Diz agora essa prestimosa instituição, que dá pelo nome de FMI, e que Portugal ajudou a criar, que a crise se vai tornar numa anemia. Eu não sou adivinho, mas a última palavra que escrevi esta manhã, antes de rumar até à Malveira, foi anemia. Dá-me a sensação que, por este andar, ainda acabo como comentador da rádio ou da “televisão”.
        

terça-feira, 16 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 16 de Abril de 2013 – Hoje viveu-se o feriado municipal, em Castelo Branco, que os troikanos não devem lá entender muito bem, mas que ainda não terão tido o atrevimento de propor a Gaspar o fim dos mesmos ou deste de o sugerir. É que, lá bem no fundo, os feriados municipais, na óptica dos troikanos e dos concelos que fazem de capatazes, todos estes feriados locais são um feriado nacional ou até mais. E há que pôr termo à lazeira deste povoléu, que só pensa em comer e divertir-se.
     Pois hoje foi dia de sapateiro, em Castelo Branco. Estiveram fechadas as oficinas de sapateiro e as sapatarias e o comércio em geral e a indústria também e a agricultura, que hoje idem não era dia de pesca, e os serviços estiveram alegremente encerrados. Trabalharam os polícias e os profissionais de saúde e outras actividades afins. E creio que os carteiristas, que têm mão levezinha, em Castelo Branco, também devem ter estado em actividade.
     Hoje era o dia de Santa Eufêmia, a quem a minha mãe reza por mim e por ela, um pouco como era dito naquela cantiga medieval da ida à romaria de Sam Simion. Falei com minha mãe e fiquei a saber que tem uma promessa para cumprir, ou seja, dar duas voltas ao recinto da capela da Senhora de Mércoles, mas onde moram também Santa Luzia e Santa Eufêmia, pedindo-se à última protecção contra as doenças ruins. Inda me lembrei de lhe dizer que rezasse muito para que Santa Eufêmia nos levasse o Gaspar para junto do amigo coxo e nos desamparasse a loja. Mas poupei a minha mãe a esta, como a poupo a outras coisas que a vida nos traz e que nem sempre nos fazem sorrir.
     Que tenha sido um bom feriado municipal, um bom dia de Santa Eufêmia e um bom dia de sapateiro!  

    

segunda-feira, 15 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 15 de Abril de 2013 – No segundo fim-de-semana a seguir à Páscoa, era romaria da Senhora de Mércoles, em Castelo Branco, que decorria durante três dias: domingo segunda e terça, ou seja, um dia dedicado às três santinhas que habitam a capela, que, nem de propósito, tem uma frontaria tripartida. Se a memória não me falha, as outras santas são Luzia, que trata dos olhos, e Eufêmia, cuja especialidade desconheço. Uma virgem, como todas as santas, com um fim trágico, que era assim que se conseguia a santidade, noutros tempos. Se perguntasse à minha mãe, ela saberia dizer-me coisas acerca de Santa Eufêmia, à qual rezava todas as noites.
     A senhora de Mércoles era uma festa, mais pagã do que religiosa, onde não faltavam os matraquilhos, as quermesses, aqueles jogos de sorte e azar, que, tão simples como as populações rurais, serviam para uns ganharem a vida e os jogadores se divertirem desafiando a sorte. Quando o tempo vinha de feição, estendia-se a toalha alva ou outra no chão e colocavam-se “as comidinhas” em cima, para uma merenda ao ar livre, sempre alegre e divertida. Nos campos que circundavam a capela, comiam, bebiam e divertiam-se milhares de albicastrenses. Ou albicastrenses adoptivos.
     Eu ia os três dias, sempre a pé, ainda que a terça ainda não fosse o feriado municipal. Se a memória não me falha, a terça era dedicada aos artífices da arte de consertar e fazer botas e sapatos, ou seja, aos sapateiros, que, iam comer à senhora de Mércoles uma deliciosa salada de almeirão com feijão-frade e pastelinhos de bacalhau. Era o grande dia dos sapateiros!

    

domingo, 14 de abril de 2013

SENHORA DO ALMORTÃO  
 

Senhora do Almortão,
Em Idanha tem morada.
Sempre rosa em botão,
Ora rosa, ora encarnada.


A Senhora do Almortão
É santinha recatada.
‘stá naquela solidão
E não se queixa de nada.
 


A Senhora tem morada,
Numa bonita capela.
Para a Mata ‘stá virada,
Que também é terra dela.


A Senhora do Almortão
É ‘ma rosa perfumada.
Em todo o solo beirão,
Não há outra tão amada.



SENHORA DO ALMORTÃO


Senhora do Almortão,
Ó minha rosa encarnada,
Tratai bem o São Romão,
Nunca lhe faltai com nada!

Vejo-vos sempre solteira,
Tão bonita, tão vistosa.
Não há santinha na Beira,
Como vós tão virtuosa.
POÉTICA PARA DESANIMAR A LOS LECTORES



Nada digo que no haya sido dicho.
No busques novedades en mi verso.
Amé sin ser amado, como tantos.
Fui joven, como todos sin saberlo.
Le pedí al arte cosas que he olvidado.
Sólo sé que de nada me sirvieron.
Tuve un tesoro entre los manos, tuve,
oro y arena, luz y desconsuelo.
No busques novedades. Lo que digo
tú lo has pensado y otros lo dijeron
con palabras más bellas que las mías.
Escribo sólo por matar el tiempo

José Luis García Martín 

sábado, 13 de abril de 2013

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 13 de Abril de 2013 – Integrada na SEMANA DA LEITURA, realizou-se a noite passada uma CONVERSA À VOLTA DOS LIVROS E DA ESCRITA, na CASA DA CULTURA de Santa Iria de Azóia que contou com a presença de cerca de duas dezenas de pessoas e os autores Maria Jorge, José Movilha (prosa), Délio Alves e Manuel Barata (poesia). Esta primeira SESSÃO/CONVERSA foi apresentada e moderada por Francisco Catarro.
     Apesar de muito atenta, a plateia ouviu, mas não se mostrou muito curiosa. O debate decorreu mais entre os autores que, obviamente, têm diferentes ideias acerca da criação artística. Valeu ainda o contributo dado pela pintora Lurdes Caramelo, que é também uma filha adoptiva de Santa Iria.
     Após a sessão/conversa, a Junta de Freguesia, que está sempre interessada em colaborar e promover eventos culturais, ofereceu um porto-de-honra aos presentes. Interessante.