quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

AI, ESTE TERRÍVEL NÓ NA GARGANTA

Edvard Munch (1863-1944)

Ai, este terrível nó na garganta!...
Este nó que silencia o espanto e o grito
E me impede de te falar, amor,
Dos dias de sol, da ternura e da alegria.
É um nó infame este nó, que me rouba,
Quotidianamente, o sentido da vida.
Este ostensivo e miserável nó, amada,
Sufoca-me, estrangula-me, mata-me!
Eu queria libertar-me deste sórdido nó,
Mais eficaz do que todos os muros,
Que obscenamente nos devolvem
O eco dos nossos gritos e do nosso espanto.
Eu queria muito, eu queria tanto, amiga,
Aquela voz antiga, livre e límpida!


A CIDADE NÃO É UMA SELVA





Eu não acho que a cidade seja uma selva,
como por vezes se diz por aí acerca de tudo e de nada.
A cidade é muita gente, muito movimento e casas altas,
que nos distraem das coisas mais importantes,
onde a nossa solidão é do tamanho das casas altas.
A cidade grande, ainda que seja uma grande cidade,
Não tem prados e potros e cavalos a relinchar

A cidade, para dizer toda a verdade,
É muitas (im)posturas municipais e mais regras e horários
- e as loucas correrias quotidianas -,

Que impedem a vida verdadeira e a própria liberdade.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Imagens da Nação em ‘Diários de Emília Bravo’, de Maria Judite de Carvalho




A escolha do nome de Maria Judite de Carvalho, no âmbito de um colóquio sobre a escrita feminina na imprensa periódica luso-afro-brasileira, surge quase naturalmente uma vez que estamos perante uma das vozes literárias mais penetrantes e acutilantes da literatura portuguesa da segunda metade do século XX. Mais, a sua obra e, em especial, as crónicas, que durante anos publicou em vários jornais de Lisboa, antes e depois do 25 de Abril – embora a nós, em particular, nos interessem mais as crónicas que antecedem esse período -, afloram uma ideia de sociedade e também de feminino que a autora procura combater de forma directa umas vezes e outras de forma mais velada numa interessante tentativa de estimular as leitoras pela inteligência e não pela crítica simples e dura.
 Mas, por outro lado, impôs-se-nos, ainda, eleger uma voz singular, que colocasse a possibilidade de uma análise abrangente em termos culturais e, sobretudo, que nos permitisse reflectir sobre essa identidade cultural e, em concreto, sobre a sua dimensão especular que inevitavelmente nos devolve – apesar de fragmentada – a imagem do que somos e/ou quem fomos e para onde vamos e/ou fomos enquanto país. Daí também a escolha – não sem ironia – do termo nação, no título, que nos coloca perante um Portugal específico e preciso: o Portugal salazarista – último reduto da nossa imagem mítica, segundo Eduardo Lourenço, que vemos esboroar-se através da voz inquietante da cronista que foi Maria Judite de Carvalho.
Diários de Emília Bravo trata-se de um conjunto de textos, publicados no Suplemento «Mulher» do Diário de Lisboa, entre 1971 e 1974, assinados com o pseudónimo Emília Bravo, composto essencialmente por crónicas que, aliás Maria Judite vinha publicando desde 1968, neste mesmo jornal, sob o título «Rectângulos da Vida».
Ao lermos Diários de Emília Bravo - e pesem embora algumas das especificidades destes textos, nomeadamente no que toca à relação entre o diário e a crónica - bem como outras das crónicas reunidas em volume como O Homem no Arame ou A Janela Fingida, torna-se clara a intenção de comunicar com o leitor e de o levar a reflectir sobre a sociedade, como nota Ruth Navas.
A intenção de comunicar com o público leitor, levando-o a analisar situações do quotidiano, que a autora recolhe e comenta, fazem, ainda segundo Ruth Navas, parte de uma nova concepção de jornalismo, que começa a emergir por volta dos anos 60 e que está ligada a um conjunto de acontecimentos mundiais que envolvem conflitos bélicos, como o da Guerra do Vietnam, o que muito contribuiu para a alteração do estatuto do jornalista que já não se vê apenas como um redactor de notícias, mas antes como alguém que pode imiscuir-se na realidade e ter nela um papel actuante.
Posto isto, e porque a maioria das crónicas de Maria Judite de Carvalho são escritas durante o período do Estado Novo, cremos poder observar aí alguns traços da idiossincrasia nacional, que, ao mesmo tempo, nos servem para perceber de que modo a imagem que advém dessas crónicas nos devolve um reflexo do que projectamos como sendo a representação de nós próprios enquanto colectivo. Por outro lado, nestas crónicas, há já indícios de um contexto sócio-político que se vai desmoronando, mas onde a liberdade de expressão não existe de facto, ficando patente o aspecto de denúncia de uma situação opressiva, em geral, e da mulher, em particular, por parte de uma voz autoral que não recusa assumir uma determinada postura ética.
Assim, e porque, também através da literatura, tem sido possível, ao longo de vários séculos, construir uma imagem de Portugal e dos portugueses, quer em termos individuais, quer em termos colectivos, quer ainda em termos que podem envolver as duas vertentes, tomamos como ponto de partida «Psicanálise Mítica do Destino Português», de Eduardo Lourenço, um texto, que apesar da distância no tempo continua, para nós, a ser um dos mais ilustrativos sobre esse desajustamento da imagem que, enquanto portugueses, fazemos de nós mesmos.
Encontramos, portanto, nesse texto, como se sabe, uma extensa reflexão psicanalítica sobre uma certa incapacidade para percebermos, enquanto povo, qual o nosso destino, bem como o de traçarmos um perfil objectivo da nossa acção cultural, à qual se juntam as dimensões sociais e políticas, entre outras. Tal incapacidade levou (leva?) frequentemente, alguns de nós, a projectar uma imagem irreal enquanto país que, para o período temporal que nos interessa (século XX) é, porventura, herdeira do conceito de Nação estabelecido pelo Estado Novo:

«(…) Não vivíamos num país real, mas numa ‘Disneyland’ qualquer, sem escândalos, nem suicídios, nem verdadeiros problemas. O sistema chegou a uma tal perfeição na matéria que não parecia possível contrapor uma outra imagem de nós mesmos àquela que o regime tão impune mas tão habilmente propunha sem que essa imagem-outra (não apenas ideológica, mas cultural) aparecesse como uma sacrílega contestação da verdade portuguesa por ele restituída à sua essência e esplendor.»[1]


Ora é precisamente este conceito de Nação que cremos ser posto em causa em Diários de Emília Bravo, numa tentativa de dar da realidade portuguesa essa «imagem-outra», como refere Eduardo Lourenço, e que também, segundo o mesmo autor, em texto distinto[2], revela, pela primeira vez na literatura portuguesa, não só em Maria Judite de Carvalho, mas também em autores como Agustina Bessa-Luís, Almeida Faria, ou até Ruben A. – só para citar alguns nomes de um panorama maior e diverso – a capacidade que certos autores tiveram de ajustar os seus textos ao tempo e ao que realmente se estava vivendo.
Ao contrário do que acontecera anteriormente, nota Eduardo Lourenço, para alguns autores portugueses o afastamento em relação à Europa e ao mundo alterara-se bastante devido, por exemplo, dizemos nós, ao aparecimento da televisão que naturalmente encurtava a distância entre nós e os outros e que assim (não sem algum paradoxo) nos voltava mais para dentro de nós próprios enquanto identidade cultural a necessitar de reabilitação.
Neste contexto, aqui abreviado por razões de espaço, são publicados os textos de Diários de Emília Bravo que, como tivemos ocasião de sublinhar, contêm, entre outros aspectos, o da denúncia de um tempo cultural e social opressivo e angustiante, onde a mulher tenta conquistar um lugar fora de casa no mundo do trabalho e na sociedade em geral, tendo que gerir duas vidas em simultâneo: a familiar e a profissional. Refiro-me aqui, em concreto, ao «Diário De Uma Dona de Casa», onde parece haver uma identificação entre a narradora e as donas de casa, mulheres como ela, que têm uma casa, que vai muito além do sentido literal, ganhando uma conotação íntima que, aliás, encontramos em outros textos de Maria Judite de Carvalho.
É necessário entrar dentro de casa destas mulheres, que são como todas as outras, ajudando-as a sentirem-se banais, e levando-as a reconhecerem-se nos textos do jornal que lêem. Por outro lado, há, nestes textos, o uso de uma estratégia retórica que aposta na simplicidade da narrativa, cultivando formas breves, despidas de adjectivos, como nota Jacinto do Prado Coelho[3] e outros, apontando para uma contenção que faz da sua palavra uma palavra penetrante, entrando pelos interstícios de cada um dos seus leitores. Tomemos como exemplo do que acabamos de dizer o seguinte excerto: 

«Comigo é diferente. Do que eu digo guardam segredo. Conhecem-me há muitos anos e… Ou: conhecem-me há pouco tempo mas…
Hoje no cabeleireiro. A senhora B, ali presente, perguntou se a menina A tinha aparecido ultimamente. E travou-se uma conversa sobre a referida A, em que muitas e variadas coisas (que só à própria A deviam interessar) foram ditas e comentadas. Depois a senhora B saiu e elogiou-se a senhora B contando-se também coisas muito simpáticas, mas que não tinham nada que ser apregoadas porque se referiam à vida particular da B. culpa de quem? Da A e da B (entre muitas outras, clientes, claro) que tinham contado ali a sua vida. Porque, está-se mesmo a ver, pensavam:
«Comigo é diferente. Conhecem-me há muitos anos e… Ou: conhecem-me há pouco tempo mas…»[4]

O cabeleireiro é o referente que serve de isco e cuja função é conduzir a leitora ao território da interioridade, fazendo-a reflectir, e, em simultâneo, colocando-a dentro de si própria num processo de auto-análise que, em alguns passos, parece ser também autobiográfico - como se pode ver no uso do pronome pessoal «comigo». Ou seja, em última instância, quase poderíamos dizer que se trata de uma reflexão individual, mas conjunta, ao mesmo tempo, na medida em que a narradora se serve de uma estratégia retórica que lhe permite, através do seu ponto de vista, tornar-se cúmplice da leitora, fazendo-lhe companhia e mostrando-lhe que o que lhe acontece a ela também pode suceder a outras mulheres incluindo a narradora.
Acrescente-se que é essa mesma estratégia retórica que encontramos frequentemente nas observações que a cronista faz sobre a moda e que retratam um feminino, na maioria das vezes, fútil, ausente da realidade e sem consciência do seu papel social:

«Não sou contra a moda, longe disso. Mas estou cheia de curiosidade. Quem é que entre nós vai usar, esta Primavera, os tais hot pants de que hoje se fala nos jornais? As rapariguinhas, claro. Mas as mulheres mais velhas ou, perdão, menos novas? Mas as senhoras eufemisticamente fortes e que gostam de seguir as leis dos grandes costureiros? Porque, segundo diz Ursula Andress, os hot pants faz que a mini-saia pareça um sobretudo.»[5]

Ainda no que respeita ao tema da moda, tal como em outros, encontramos de novo uma espécie de intromissão (digamos assim) no quotidiano das figuras femininas, mas com uma pequena nuance que se pauta por um olhar desabrido que frequentemente pretende assestar no ponto que se critica de forma violenta mas, apesar de tudo, humana:

«Esta Primavera, vamos ver estranhas coisas no capítulo moda. Não falando dos já tão falados shorts, muitas outras novidades se anunciam. Na praia teremos xailes franjados a condizer com os fatos de banho, na cidade teremos aventais de organdi, de cabedal, de tafetá, de cetim, com folhos ou com plissados. Claro que isto dos aventais só é mesmo engraçado para quem não usa avental. E Mariella Righini escreve no Nouvel Observateur: ‘As verdadeiras escravas, as que arrastam as chinelas atrás de homens tirânicos, as que fornecem milhões de horas de trabalho invisível e gratuito à sombra de caçarolas, talvez não lhes apreciem o humor. Para elas um avental é um avental.’»[6]   


A preocupação pela problemática feminina é, portanto, uma constante da obra juditiana não só nas crónicas, mas também nas novelas e nos contos. Note-se que muitas das suas personagens femininas são, por assim dizer, pessoas sem saída em face de uma realidade que as oprime; são seres aos bocados, ou bocados de seres dispersos que não conseguem ajustar-se à realidade comum da vida - como sugere José da Costa Esteves:

«(…) Maria Judite de Carvalho expos dans ses contes, nouvelles et chroniques, des faits divers, des morceaux de vies, des vies faites de morceaux (…). Des viés où tout échoue et où rien ne va: l’amour, les espoirs, les projets. Des vies qui se fracassent contre des murailles insurmontables, car chaque Homme ne vit que pour lui-même et par  lui-même, dans ses grandeurs et ses misères, dans le cocon qui l’enveloppe  depuis sa naissance jusqu’à sa mort. Les trajectoires sont toujours parallèles et les rencontres fugaces ne font que mettre en évidence le choc des solitudes, dans une agitation vaine où aucune  pièce ne trouve sa place dans le puzzle complexe de la vie. »[7]

Todavia, não é só a solidão ou a tristeza femininas que impressionam a pena da cronista, mas também as vidas das mulheres para quem aparentemente tudo corre bem. São mulheres sem ocupação profissional, a quem nada falta, que vivem com os seus maridos nas suas casas, onde recebem os seus amigos, mas onde, no fim de contas, o acto de viver é de plástico, porque essa realidade familiar existe em função do homem. Veja-se, por isso, como, no excerto seguinte, a voz da cronista se avoluma para exprobar situações que mostra conhecer bem e que, uma vez mais, visam colocar a mulher perante si própria e perante as suas responsabilidades:

«A emancipação das mulheres não interessa a todas, é o interessa! Não interessa mesmo senão a um número bastante restrito. Eu, por exemplo, conheço uma mulher, inteligente, culta, evoluidíssima, dentro de todos os problemas passados, presentes e futuros, mas que nunca abriu a boca sobre tal assunto. Sente-se perfeitamente como está, com um marido que ganha muito bem, numa casa muitíssimo confortável onde recebe frequentemente os amigos, que são todos eles gente excelentemente instalada na vida. Ora como é que uma pessoa pode desalienar-se, emancipar-se, promover-se, sem trabalhar, vivendo à custa de outrem? É que isso de promoção, feminismo, etc., implica entre outras coisas ganhar não para os alfinetes (…) mas para o pão-nosso-de-cada-dia da pessoa, do casal, da família, pão esse que cada vez está mais difícil de ganhar. Ora isto implica necessidade de pensar duas vezes antes de tomar uma atitude. Pois não é verdade? (…)»[8]

Por outro lado, também se torna notório nas crónicas de Maria Judite o interesse pelos pequenos nadas quotidianos, que contribuem para a edificação de uma imagem temporal e de sujeito que em muito nos fazem lembrar os textos de Irene Lisboa, nos quais encontra, aliás, Paula Morão semelhanças com os da autora de As Palavras Poupadas:
«Como Irene Lisboa, Maria Judite de Carvalho é mestre na arte de tematizar e reificar o tempo, tornando material e concreto o que parece subjectivo ou o que, de tão evidente, passa despercebido e não ganha, em geral, a dignidade de ser objecto de narração (…)»[9].

Atentemos noutro excerto:

«Nós, portugueses, somos exagerados. Nunca tivemos misses e, pelos vistos, passávamos perfeitamente sem elas. Ou tivemos e deixámos de ter, o que é o mesmo. Enfim, não nos faziam falta. Mas eis que de repente, senhores…
Fala-se ainda não há uma ano de Ana Maria Lucas. Uns meses, portanto. Mas tem-se falado tanto que nos parece que a conhecemos desde criança. Agora, chegado que está – quase – o fim do seu reinado, outra miss surgirá. E durante  os doze meses que se seguirem…
Somos, na verdade, de um exagero…»

Mais uma vez, podemos observar o olhar da narradora acompanhando o nosso, chamando-nos a apreciar o quadro do real para, no último instante, ainda que continuando a fazer parte de uma espécie de conjunto de observadores (composto pela narradora e seus leitores), se afastar um pouco, reservando para si um espaço solitário pontuado por murmúrios, como têm notado alguns dos seus críticos mais relevantes.
O murmúrio é pois solitário e o seu modo textual de eleição é, muitas vezes, o monólogo que frequentemente se adensa na escrita juditiana, marcada por um discurso que se situa fundamentalmente ao nível da enunciação como refere José Manuel da Costa Esteves.
Debrucemo-nos sobre o último excerto:

«(…) Trata-se que chega a casa, o pai do Luís, e a mulher mostra-lhe o aviso para pagar a contribuição e diz-lhe que não há dinheiro que mais chore. Trava-se então entre ambos, o pai e a mãe do Luís, o diálogo que se segue. Pergunta ele: - Quando saímos à noite, não gostas que as rua estejam bem claras?
- Está visto que sim.
- Logo, é preciso pagar a iluminação pública. E, há dias, não ficaste  muito zangada porque ias torcendo um pé numa cova que havia na calçada?
- Está visto que sim, mas…
(…)
E continua por aqui fora, ele, o pai a explicar, ela, a mãe a dizer: «Está visto que sim». No fim, a senhora, já elucidada, diz:
- A questão é que esse dinheiro seja bem aplicado.
- Está visto que sim -, disse o marido por sua vez.
Uma certa sensatez, eis tudo o que é concedido à boa senhora. Mas quem sabe, quem explica, é só ele, o pai. O Luís vai aprendendo desde cedo que é assim. Em casa e também na escola. Ele e todos os Luíses da quarta classe.

Para além da denúncia do papel da mulher na sociedade, do pequeno facto do quotidiano ou das crónicas que se constroem a partir de assuntos do próprio jornal ou revistas (sobretudo estrangeiras), entre outros, que muito contribuem para a composição de uma paisagem urbana e nacional marcada pelas vicissitudes do tempo e da História, como tentámos mostrar, gostaríamos apenas de acrescentar que tendo Maria Judite de Carvalho. começado a publicar no final dos anos 50 e, por conseguinte, em paralelo com outros movimentos como, por exemplo, o do neo-realismo, não deixa de ser curioso que a forma que encontra de mostrar o real se faça nos termos de num compromisso ético e estético que, neste sentido, não serve apenas para denunciar mas, sobretudo, para conduzir à reflexão e interpretação de um perfil cultural que é o nosso, português, onde o traço intimista da autora ocupa um lugar central.


Filipa Barata
CLEPUL – Universidade de Lisboa



[1] Eduardo Lourenço, O Labirinto da Saudade, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1982, p.31
[2] Eduardo Lourenço, O Canto do Signo – Existência e Literatura, Lisboa, Editorial Presença, 1994.
[3] Jacinto do Prado Coelho, Ao Contrário de Penélope, Venda Nova, Bertrand Editora, 1976, pp. 275-278.
[4] Maria Judite de Carvalho, Diários de Emília Bravo (organização de Ruth Navas) Lisboa, Editorial Caminho, 2002, pp. 45-46.
[5] Ibid, p. 19.
[6] Ibid, pp. 40-41.
[7] José Manuel da Costa Esteves, La littérature portugaise contemporaine : le plaisir du portage, Paris, L'Harmattan,, 2008, p. 73.
[8] Maria Judite de Carvalho, Diários de Emília Bravo (organização de Ruth Navas) Lisboa, Editorial Caminho, 2002, p. 119.
[9] Paula Morão, O Secreto e o Real, Lisboa, Campo da Comunicação, 2011, p. 449.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

NUNCA MALTRATES A NATUREZA



Nunca maltrates a Natureza, digo-me, diariamente,
porque me acolheu quando cheguei
e há-de ficar quando o meu coração de bater deixar.
Passam aviões barulhentos quase sobre a minha casa,
apressadas ambulâncias fazem ouvir suas sirenes,
roncam desenfreados automóveis e camionetas.
Se gritar quisesse aqui do alto do monte onde me encontro,
seria impossível ouvir o eco da minha voz,
vindo do monte em frente.
Ah, como seria bom ouvir o eco da minha voz
Aqui no alto do monte onde me encontro!
O pior, o pior de tudo, é as químicas, as bombas e os fogos
Que tudo conspurcam, destroem, matam.

E não me deixam mais beber água nas fontes e nos regatos.



ONTEM EM SACAVÉM


29.01.2018 – Ontem participei num encontro de colectividades de cultura, recreio e desporto, em Sacavém. Encontro muito proveitoso, mormente quando as colectividades são visadas por causa do desastre de há duas semanas, em Vila Nova da rainha, Tondela.


     Bem sei que cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém e que há que proteger as vidas das pessoas, que encontram nestas organizações populares uma forma de realização pessoal e até de fugirem à solidão. Presido à direcção de uma colectividade com cerca de trezentos associados, a UCA –União de Cultura e Acção, onde cerca de sessenta pessoas aprendem línguas, informática, arraiolos, pintura, renda, macramé, etc. E quero estar dentro da mais estrita legalidade, para que a colectividade possa cumprir o seu papel com segurança.


     Mas o que eu queria também era deixar duas ou três notas acerca de Sacavém, uma das localidades mais industriais do país e que hoje, apesar de ter algumas urbanizações novas, é uma cidade com o centro histórico em ruínas. Sacavém, pela sua História e pelo que representou no passado, merecia um outro olhar, merecia uma intervenção de fundo, nomeadamente no que diz respeito ao restauro ou à demolição pura e simples de inúmeras construções.



     Como diria Eduardo Guerra Carneiro isto anda tudo ligado. 

domingo, 28 de janeiro de 2018

                                                                                                        Filipa Barata


(Faculdade de Letras de Lisboa)



Teoria da Heteronímia ou “O Jogo dos Nomes”?

Teoria da Heteronímia, de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, recentemente editada pela Assírio & Alvim, é uma súmula da heteronímia pessoana e dos olhares que, ao longo do tempo, se têm debruçado sobre ela. O livro que apresentamos constitui-se, sob vários aspetos, como um fundamental conjunto de textos escritos por Fernando Pessoa e seus heterónimos, onde a questão da heteronímia – que, porventura, constitui o polo mais atraente da obra de Fernando Pessoa - se encontra em destaque.
Um dos primeiros aspectos a ter conta é que uma obra vasta e heterogénea como a de Pessoa que, desde o seu aparecimento e até à morte do seu autor, não cessou de ter admiradores e leitores, há muito que justificava uma compilação de textos, onde a questão da heteronímia viesse a ocupar um lugar central. E isto porque, parece não restarem dúvidas de que a construção heteronímica tem sido não apenas um dos principais motivos de interesse em relação à obra de Pessoa e, consequentemente, aquilo que o torna mais conhecido, mas também aquilo que encontramos na base de todo um trabalho crítico que se ergueu não só em torno da obra, mas também do autor dela.
Sem querermos atalhar caminho, no que concerne à matéria deste livro – e não deixando, mais uma vez, de reiterar a sua necessidade no panorama dos estudos pessoanos, mas também para os leitores de Pessoa, em geral – gostaríamos de referir, desde já, que uma das coisas que parecem ficar claras, a partir da sua leitura, e no que à heteronímia respeita, é o facto de ser Fernando Pessoa o primeiro autor a colocar em questão justamente a autoria da escrita. O que subjaz à criação dos heterónimos é uma questão que se pode formular de maneira aparentemente simples: quem é o autor dos textos escritos sob o nome de Fernando Pessoa? Sabendo de antemão que Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos são heterónimos será que devemos tratá-los autonomamente em relação ao ortónimo? E o ortónimo será o “poeta verdadeiro”? Como se pode actualmente entender o que é um heterónimo sem passar pelas teorizações mais antigas que, na sua grande maioria, tentam explicações de tipo psicologista e que tão afastadas parecem, hoje, da compreensão sobre a literatura e o texto literário?
Para estas e outras questões vamos encontrar resposta em Teoria da Heteronímia, desde logo, pela compreensão de que “(…) todos os géneros literários implicam a constituição ficcional de um autor. “ (p.23). E, mais ainda, no caso de Pessoa, em que a dissolução da personalidade, defendida pelo próprio, faz com que o nome do autor (Fernando Pessoa) se torne também ele uma ficção.
Mas detenhamo-nos, para já, sobre o longo prefácio que acompanha Teoria da Heteronímia, onde é feito um périplo pelos terrenos da crítica pessoana mais convencional, e cujas interpretações se colocam, muitas vezes, na esteira da explicação dada por Pessoa, na carta a Adolfo Casais Monteiro (13-1-1935), defendendo a despersonalização como um processo capaz de explicar a reunião de vozes de outros no interior do Poeta. Entre os que partilham esta posição encontram-se nomes como os de José Gil ou Eduardo Lourenço, o primeiro através do conceito do “espaço interior” (p.13) e, o segundo, tentando esclarecer o sentido dessa despersonalização através da criação de “personalizações” (p.14).
Contudo, há outras posições que, procurando pôr um pouco de lado a explicação de Pessoa, entendem a questão da heteronímia à luz de um culto das personae, algo comum na poesia moderna, e que acaba por conhecer posteriores desenvolvimentos com as poéticas da Vanguarda. Neste sentido, e segundo os autores de Teoria da Heteronímia, as leituras que têm por base esta perspectiva tendem a desviar-se mais de uma heteronímia vista como “um jogo de subjectividades” (p.13), encarando-a antes como parte de um processo artístico próprio dessas poéticas.
Mas, a revisitação crítica prossegue e, desta vez, para citar Óscar Lopes que aponta, no caso de Pessoa, para existência de uma personalidade genial, através da qual se manifestam naturalmente outras vozes.
Depois cita-se ainda Jacinto do Prado Coelho, que, como notam os autores, afasta-se das críticas mais convencionais – pese inclusivamente o facto de se tratar de um dos estudiosos mais antigos de Pessoa e dos que mais terá contribuído para a divulgação da sua obra – sublinhando a dificuldade, embora ele o tivesse tentado, em estabelecer uma unidade na escrita de Pessoa, nomeadamente nos textos do pensador, o que origina “(…) uma nunca terminada teorização da escrita-na-pessoa-de-outro.” (p.15)
Referem-se, ainda, outros críticos, como Eduardo Prado Coelho - cuja posição parece ir de encontro à de José Gil - ao falar de uma “situação intervalar”, para o caso dos heterónimos, se bem que a posição tentada pelos autores é bem outra e, essa sim, apoiada nas diretrizes poéticas do século XIX, onde figuram poetas como Keats ou Rimbaud os dois servindo como exemplos de uma “(…) dissolução poética do autor (…)” (p. 16).
Assim, os editores dos textos, compilados em Teoria da Heteronímia, veem mais Pessoa como um recetor de certas influências poéticas inglesas - de que o autor da Mensagem era, como sabemos, um conhecedor e admirador - como, por exemplo, o “egotistical sublime” de Wordsworth:

“Pessoa utiliza deliberadamente a associação direta, que o Romantismo do egotistical sublime generaliza, entre a figura histórica e civil do artista e o universo ficcional da sua obra, com todas as ilusões que tal associação permite criar. Mas sem passar pela fraude ou pela mistificação.” (p.17)

A figura do autor torna-se simultaneamente personagem, ou seja, as duas entidades coabitam num mesmo plano ficcional, uma vez que, julgamos nós, talvez o real, em Pessoa, se encontre apenas na existência de um nome civil, já que é o próprio quem no-lo diz na Tábua Bibliográfica, surgida na presença, em 1928, e que, agora, se publica em Teoria da Heteronímia:

 “(…) a heteronímia é do autor fora da sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu. (…) (Se estas três individualidades são mais ou menos reais que o próprio Fernando Pessoa – é problema metafísico, que este, ausente do segredo dos Deuses, e ignorando portanto o que seja realidade, nunca poderá resolver.).” (pp.227-29)

Por conseguinte, talvez faça menos sentido dizer que a diferença entre o heterónimo e o ortónimo decorre da oposição entre o nome próprio (do autor) e o inventado, como se refere na página 19: “(…) Assim passam o nome inventado e o nome verdadeiro a coexistir no plano complexo de uma realidade que os inclui a ambos, o inventado ganhando realidade, e o verdadeiro parecendo ficcionalizar-se.” E isto porque, mais adiante, se diz que é nessa mesma Tábua que Pessoa “(…) estabelece com toda a clareza a diferença conceptual entre o autor Fernando Pessoa e o poeta com o mesmo nome que é parte do sistema de poetas (Bernardo Soares ainda não é citado) (…).” Se todos (os poetas) estão no mesmo “plano de autoria” dificilmente se poderá dizer que há um “verdadeiro” que parece “ficcionalizar-se”. Aliás, prosseguindo a leitura deste estudo, acabamos por concluir que “(…) o nome do autor está ligado ao conjunto da sua obra, e, se esse conjunto variar, o sentido do nome do autor varia também. (…) Portanto, à luz desta definição do autor em função da sua obra, há uma diferença óbvia entre Pessoa e o ‘ortónimo’ Fernando Pessoa: o primeiro é um autor, o segundo o nome de um autor. Pessoa é um autor que se distingue daqueles autores que pela sua mão assinam, e se distingue mesmo de um deles que usa o seu nome próprio.” (p.21)
Ora, de acordo com as palavras dos editores de Teoria da Heteronímia, e continuando a seguir os seus passos, o que parece evidenciar-se é que, querer encontrar um “nome verdadeiro” para o Poeta, que foi e é Fernando Pessoa, se torna uma tarefa mais ou menos inglória porque, porventura, um dos maiores fascínios da leitura da sua obra advém dessa “ideia de heteronímia”, através da qual, o Poeta é todos os poetas. É nessa anulação da personalidade que a voz poética encontra o seu lugar de irradiação e onde Fernando Pessoa é sobretudo um nome civil, uma vez que, tal como vimos anteriormente, tanto o heterónimo como o ortónimo são ficções criadas por alguém que apenas serve essas mesmas ficções, tomando para si “(…) um estatuto ancilar de executor: ‘Hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano, eu o dividi entre os autores vários de cuja obra tenho sido o executor’.”( p.22)
O longo prefácio prossegue, depois, não deixando de aludir ao conceito de personagem, através do qual o autor se torna igualmente personagem do seu texto, e que vai de encontro ao conceito de dramaticidade, sobre o qual muitos críticos se debruçaram numa releitura das palavras de Pessoa, nomeadamente Teresa Rita Lopes.        
Outro dos aspetos a merecer observação na obra que aqui se apresenta, e tal como notámos ao início, prende-se com a capacidade de reunir, pela primeira vez, todos os nomes criados por Pessoa ao longo da sua vida, incluindo os heterónimos mais conhecidos como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos ou António Mora e Alexander Search, mas também o semi-heterónimo Bernardo Soares, alternando com Vicente Guedes, bem como todo um conjunto de “autores-colaboradores”, como é o caso do Barão de Teive, ou de meras personagens sem obra atribuída, para as quais Pessoa deixou, no entanto, assinaturas como, por exemplo, António Vasques, Álvaro Eanes, Aurélio Pereira Quintanilha, entre muitos outros.
Ao todo trata-se, como referem os editores, de uma lista de cerca de 106 nomes fictícios de autores de uma obra original ou tradução, criados por Pessoa, organizados por ordem cronológica, de acordo com a altura em que começam o seu labor “autoral”.  
Para além da lista de nomes encontramos também uma série de textos de caráter reflexivo sobre a heteronímia propriamente dita, entre éditos e inéditos, bem como todo um conjunto de projetos, poemas, histórias e ideias, na maioria das vezes, difíceis de classificar com exceção dos poemas por se encontrarem escritos em verso.
Para concluir, talvez seja ainda altura de tocar dois pontos, para nós, relevantes.
O primeiro ponto diz respeito a uma recolocação do problema da heteronímia, levada a cabo nesta compilação de textos, e que tem como consequência uma proposta de leitura renovada que entende a criação de heterónimos sobretudo como um processo artístico, dentro do qual não cabe a utilização de termos muito rigorosos que, porventura, contribuem mais para o obscurecimento desta questão do que para o seu aclaramento:

 “(…) E é bom não sermos excessivamente puristas quanto à terminologia que usamos para falar desses três e dos muitos outros seres inventados em cujo nome Pessoa escreveu, ou pensou escrever. Segundo cremos, são os princípios que governam a heteronímia e as modalidades do seu funcionamento que convém entendermos para uma melhor apreciação da obra pessoana e até para a nossa própria edificação enquanto leitores ainda dispostos a refletir e aprender.” (p.41).

O segundo e último ponto, que julgamos valer a pena mencionar, surge ligado à “estranheza”, de que nos fala Eduardo Lourenço[1] (2003: 27-28), provocada por Pessoa não só no panorama das letras e da cultura nacionais, mas também internacionais.
Talvez esse efeito de “estranheza” seja, hoje, menor, porquanto o que há nele de desajustamento possa atualmente compreender-se melhor do que no tempo em que nasceu e viveu Fernando Pessoa. A sua proposta passa por uma questionação quer do lugar do autor, quer da obra e quer, ainda, da linguagem utilizada, como estando todos envolvidos num processo artístico complexo que conhece, também ele desenvolvimentos e manifestações complexas mas que, apesar de tudo, não são já, nestes dias, tão bizarros como antes. O próprio autor terá tido essa consciência quando, num dos textos aqui reunidos, chama a atenção para o facto de ainda estar por vir alguém igual a si e que aquilo que estava a viver também outros iriam viver como sinais de um mundo em rápida transformação, fruto de múltiplas e variadas metamorfoses próprias da velocidade e dessa impressão – mais possível hoje do que outrora – de que se pode estar em vários sítios ao mesmo tempo e da qual a internet é, porventura, o exemplo mais flagrante. Portanto, Fernando Pessoa foi, como podemos confirmar, alguém que esteve adiantado em relação ao tempo em que viveu e que terá conseguido, através do processo heteronímico, um efeito de multiplicação e ampliação da personalidade só provavelmente igualável aos mecanismos de expansão cósmica, o que o levou a usar a já conhecida expressão: “Sê plural como o universo!” (p.133) 




[1] Eduardo Lourenço, Pessoa Revisitado, Lisboa, Gradiva, 2003.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

HOJE FOI  NO BAIXINHO

26.01.2018 – Ontem passei o dia a escrever prosa burocrática, seja lá isso o que for, e a arrumar papéis. Ou papelada, que deixo acumularem cima da minha mesa de trabalho. Ah!, pudesse eu arrumar a minha memória, esse armazém gigantesco, onde tudo guardo, e que é a única coisa que tenho a salvo dos ladrões, como diria o meu amigo Ribeiro Vaz.


      Hoje, almocei no Baixinho, um simpático restaurante da minha aldeia adoptiva, Santa iria de Azóia, onde, de resto, já almoçara ontem e anteontem e três anteontem. Hoje houve um delicioso ensopado de borrego, que acompanhei com arroz branco e legumes. Bem sei que é pouco canónico, mas é assim que almoço com prazer e estou-me nas tintas para a rigidez dos pratos.



     Partindo do borrego, e para terminar, diria que a carne da minha infância foi a de ovinos e caprinos. Alguns coelhos, bravos e mansos e galinha, pouca, porque esta era mais adequada a convalescentes e parturientes.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

UMA VOLTINHA SALOIA



17.01.2018 – Hoje houve volta saloia. O dia convidava e a Malveira foi o destino. Na companhia de um amigo mais recente, mas que é um homem de grande integridade e abertura de espírito. Dir-se-ia que entre nós não há tabus, pois falamos de tudo com muita lhaneza e inteira liberdade.

     O destino era a “MELITA”, um simpático restaurante ao cimo do Largo da Feira, onde pontificam a Cristina e o Rui – a ordem é mesmo esta – que se esmeram por servir bem quem os procura. Este vosso amigo acabou por manjar uma solha frita com arroz de coentros e uma salada “pluricolor”. Garanto-vos, todavia, que o polvo à lagareiro também ali é divinal, assim como os filetes de polvo com arroz de tomate. Acompanhamos com um moderado tinto da casa, que é assim que deve ser, quando se conduz.


    E regressámos por Bucelas, serpenteando com prudência aquela perigosa estrada, que me foi familiar durante vários anos. E despedimo-nos com um “até para a semana”, no parque do LIDL, já em Santa Iria, onde adquiri o pão habitual de cada dia.   

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

DA AMIZADE E DA MESA



14.01.2018 – Sexta-feira foi um dia em cheio, como soe dizer-se: almoço com dois queridos e velhos amigos, o Ribeiro Vaz e o Zé Farinha, e jantar com ex-colegas e familiares de ex-colegas. Sim foi um dia em cheio, dedicado à amizade e à mesa, que, penso eu, uma e outra devem andar de mãos dadas. E com a particularidade de termos sido tratados com a afabilidade, em ambos os restaurantes.

     A seguir ao almoço ainda houve tempo para um saltinho aos Coruchéus, onde o Ribeiro Farinha tem ateliê há várias décadas. E apesar dos anos, este pintor amigo, que também é um poeta, continua a pintar e a maravilhar-nos com as suas telas, onde a Natureza tem sempre um lugar cativo. Sim, a Natureza que é necessário defender quotidianamente.


     E depois foi o jantar, onde a amizade fez companhia ao saboroso bacalhau-à-brás e à carne à portuguesa. E durante cerca de três hora pôs-se a conversa em dia, porque, afinal de contas, é a falar que a gente se entende.