segunda-feira, 10 de setembro de 2012

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     Nada devo à pátria e a pátria nada me deve. Saldámos as nossas contas em seis de Outubro do ano de todos os desencontros de mil novecentos e setenta e cinco.
     Eram oito da noite e havia gritos no aeroporto militar do Figo Maduro.
     Dependurado num portão decadente, o João José, ainda criança, acenava-me comovidamente.
     Trazia às costas um saco de pesadas visões e de fragmentos de um império que, tardiamente, muito tardiamente, desaparecia. E que não me deixava saudades, nem azedumes, nem comoções.
     Separámo-nos definitivamente naquela noite de outono e nunca nos voltamos a reencontrar.
     Não temos nada para dar um ao outro, nem eu nem a pátria. As nossas contas estão rigorosamente saldadas.
     Que a pátria seja muito feliz e eu também.


in FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005

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