terça-feira, 25 de setembro de 2012

ANTÓNIO NOBRE
Foto-Net-Google
A Paula Nina Morão
  
     Às vezes, dou por mim agarrado ao de António Nobre e sinto uma imensa tristeza. Eu sei que parte daquele sofrimento é fingido, porque todos os poetas são fingidores. Mas usa uma máscara tão autêntica, tão dramaticamente convincente, que a tristeza de Anto me esfarrapa todo por dentro.
     Às vezes, ponho-me a imaginar António Nobre, sozinho, nas ruas de Paris, rememorando a igreja de Leça, o mártir S. Sebastião, o Senhor de Matosinhos... Eu imagino Anto, naquele ambiente moderno e cosmopolita, corroído de saudades dos manéis, do mar, de barcos, de fanfarras, eiras, pescadores, camponeses, arraiais.
     Às vezes, agarrado àqueles versos que até parecem conversa fiada, pelos meus olhos perpassa um Portugal beato, atrasado e rural. Que permanece, cem anos depois de Nobre, apesar de tudo, tremendamente real.

in FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lx., 2005




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