quarta-feira, 26 de setembro de 2012

DO MEU DIÁRIO

WIKIPÉDIA

Santa Iria de Azóia, 26 de Setembro de 2012 – O ano de 1975, muito agitado aqui no rectângulo e “províncias ultramarinas”, vivi-o quase na totalidade em Angola, onde tudo começou a azedar quase a seguir aos acordos do Alvor, celebrados em 15 de Janeiro. Assisti à chegadas de Agostinho Neto, a 4 de Fevereiro, data mítica para o MPLA; pouco tempo depois seria a vez de Jonas Savimbi, em quem os brancos depositavam uma imensa esperança, chegar a Luanda; Holden Roberto, não sei se alguma vez terá pisado solo luandense.
     A paz em Angola foi, portanto, sol de pouca dura. Ainda se constituíram equipas quadripartidas (patrulhas mistas), a fim de promover o entendimento entre os angolanos e também para aprenderem as técnicas de preservação da ordem pública. Os homens do MPLA eram, provavelmente, os mais letrados; os da FNLA que não falavam português eram os mais aguerridos; os da UNITA, naqueles primeiros tempos, mostravam-se os mais cordatos. A FNLA, apoiada por Mobutu e pelos EUA, era composta por gente recrutada fora do país, que falava sempre em francês. Os homens de Holden Roberto complicaram bastas vezes a vida de militares portugueses.
     Os portugueses residentes em Angola, e as crias nascidas naquele território da África dita portuguesa já adultas, pensaram até muito tarde que poderiam permanecer e acalentaram a ideia de uma solução idêntica à da antiga Rodésia. Estavam à espera de múltiplas ajudas que lhes permitiria expulsar o MPLA e a FNLA, para, depois, com o movimento de Jonas Savimbi governarem Angola. Os brancos que iam ao cinema, e que se sentavam junto dos militares portugueses, faziam provocações de toda a ordem e não se coibiam de falar dos projectos para o futuro. Nunca pensaram que teriam que regressar a trinta e nove à hora, naquela que terá sido a maior ponte aérea alguma vez realizada.
     Num certo sentido, a descolonização em Angola foi precipitada. Reconheço, sem quaisquer dificuldades, que se jogaram em Angola muitos interesses que colidiam com os dos portugueses lá residentes; todavia, é bom reconhecer também que seria difícil fazer melhor, tendo em conta os tais interesses que ali se jogavam.
     Vieram e Portugal tratou-os com enorme generosidade. A administração pública absorveu muitos milhares, a outros foram dadas condições para desenvolveram actividades comerciais e industriais. Raros terão sido os retornados que se dedicaram aos trabalhos do campo e da construção civil, na qualidade de camponeses ou operários.
     Mas ficaram até hoje com a pedra no sapato, porque sempre acharam que deveríamos ter-nos imolado por eles em Angola. Apesar de terem tido condições que os outros portugueses não tiveram, continuaram a considerar-se espoliados, mesmo quando ocupam altos cargos na administração pública e até na governação. Não compreendo, por isso mesmo, por que razões tratam agora tão mal os funcionários ao serviço do Estado.

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