quinta-feira, 8 de novembro de 2012

DO MEU DIÁRIO


Lisboa, 4 de Março de 1997 - O Eng.º Guterres terá ensandecido definitivamente. Perguntado sobre a precariedade cada vez mais precária do emprego em Portugal, respondeu que o mesmo se passa um pouco por toda a Europa. E disse ainda que o fenómeno tem aspectos positivos, porque as pessoas antigamente tinham um emprego vitalício e aprendiam uma profissão e agora, durante a vida activa, têm de mudar de emprego e até de profissão.
     Eu queria ver o Eng.º Guterres, sem pé-de-meia e sem a condição de ex qualquer coisa, aos quarenta e oito anos, arranjar emprego, mesmo sabendo que é engenheiro e que obteve altas classificações no seu curso. Era o arranjavas, António! Por isso digo que o Eng.º Guterres ensandeceu definitivamente.
     Era espectável, até pelas suas ligações à Igreja Católica, que António Guterres trouxesse à governação uma certa dose de humanismo, na senda de Pio XII e João XXIII. Acontece, todavia, que o antigo sacristão de Donas não passa de um fervoroso adepto do liberalismo mais selvagem, que, colocando a competitividade e o lucro das empresas no cerne de toda a actividade humana, afasta o Homem desse cerne. Quem diria, há dois anos, que este homem de ideias claras e sábio utilizador da língua portuguesa, haveria de tornar-se no sósia de Cavaco Silva? Em matéria de economia, claro.

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