quinta-feira, 6 de junho de 2013

POSSIBILIDADE DE AGUACEIROS
 

     Já li e reli POSSIBILIDADE DE AGUACEIROS de João de Sousa Teixeira, um poeta albicastrense que já comemorou quarenta anos de vida literária, e fiquei com a nítida sensação de que este trabalho é, do princípio ao fim, uma verdadeira “ars poetica”. A arte poética de Teixeira, mas que pode ser também a arte poética de muitos outros cultores das musas.
     Esta minha posição radica não só nas opiniões do próprio autor, que podemos encontrar nos primeiros poemas, nomeadamente em ARTE POÉTICA (pág.11), LEMBRETE (pág.13), VERSOS LAMPOS (pág. 19), etc.; mas, também, na permanente utilização da linguagem, ora com um carácter eminentemente lúdico, ora com um carácter mais grave e severo.
     O sujeito lírico diz-nos em ARTE POÉTICA que “/…/poesia é remover a nata duma alsaciana” (V.2, Q.1 )/; comer-lhe, sôfrego, a cereja freudiana (V.3 , Q.1)/…/”. Estes dois versos são muito importantes, porque remetem para o modo de trabalhar do poeta e para a essência de toda a poesia. Na terceira quadra do mesmo poema,  Teixeira evidencia o que denomina por “congénita inspiração” (V.1, Q.3); porém, retoma de novo a ideia de trabalho, quando escreve que “o poeta induz a douta orientação” (V.3, Q.3).

     Desde o primeiro livro, RO(S)TOS DO MEU PAÍS (C.Branco, 1972), que este poeta se deleita e nos deleita com as palavras. Elas surgem-lhe em “esguicho” – a tal inspiração – e ele dá-lhe “ a douta orientação”, enquanto detentor de uma “techne (τέχνη ).

     Possibilidade de Aguaceiros merece uma leitura atenta por parte da crítica mais especializada.

 

4 comentários:

  1. Obrigado, Manel. É-me simpática a tua crítica e desde já agradeço a publicação da tua opinião.
    Só um pequeno reparo: sou cada vez menos um poeta albicastrense; sou mais um albicastrense poeta,porque toda a gente tem um sítio onde nasceu... Exemplo: o poema que hoje tenho no blogue.

    TU OUTRA VEZ, POESIA?!


    A sós havemos de nos entender
    tu, poesia e eu, sobre este tema,
    e assim ninguém fica a perder:
    aos demais deixaremos o poema…

    E que sabem eles desta relação,
    a não ser o fruto, a síntese obtida
    que, sendo em nós simples fusão
    é, para quem nos decifra, outra vida.

    Mas não é tanto, não é bem assim:
    afinal, só quem não tem consigo
    imaginário, metáfora ou coisa afim,
    não sabe quem tu és nem o que eu digo.

    Abraço

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  2. Caro João,

    Tempos houve em que os poetas juntavam ao seu nome próprio o nome da cidade onde tinham nascido: Pêro Garcia Burgalês, Pêro Amigo de Sevilha, João Airas de Santiago, etc., são bons exemplos.
    Os clássicos árabes, alguns nascidos em solo actualmente português, adoptavam o "Ibn" , ou seja, filho de.
    Porém, reconheço que é redutor, nos tempos que correm, "fixar" o poeta ao local do seu nascimento. Também já cometi o mesmo "pecadilho" com António Salvado. Prometo que não voltarei a cometer este "deslize".
    Obrigado pelo poema. Abraço.

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  3. Não são os prefixos ibn, son(este é sufixo...), ilich, júnior, de, que me movem; tenho até muito orgulho nisso. Digo é que, e não é a vaidade que mo dita, sou um poeta sem sítio ou de todos os sítios, como queiras.
    Outro abraço.

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  4. Sim, eu entendo-te bem. Eu dou a mão à palmatória, ainda que albicastrense seja um adjectivo pelo qual tenho muito afecto. Eu sou o primeiro a reconhecer que a tua poesia merece melhor crítica.
    Prontos, como agora se diz: acabou-se o "albicastrense. Um forte abraço, João.

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