domingo, 8 de dezembro de 2013

DO MEU DIÁRIO


 
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Mata, 29 de Março de 1997 - Ontem, fiz a via-sacra das livrarias de Castelo Branco, a fim de adquirir o volume IV dos Cadernos de Lanzarote do sublime Saramago. Escrevi sublime? Pois se escrevi, escrito está e não retiro à palavra nenhum fonema.

     Devorei páginas e mais páginas e não lamento o tempo gasto. Confortou-me saber que o autor de Levantado do Chão, não considera que autor e narrador tenham estatutos ontológicos diferentes. Gostei de saber que Saramago pensa, tal como eu ou eu como ele, que os leitores procuram os autores e não essas entidades ficcionais que é suposto contarem a história. O narrador é uma criação do autor, que o modela a seu bel-prazer. Competente ou incompetente, omnisciente ou o seu contrário, actante ou simples contador da história, o narrador, ainda que não tenha uma existência real, jamais poderá ser dissociado do seu criador. No romance, a voz do narrador é a voz do autor. Então por que carga de água se há-de falar da ironia pessimista de Saramago? Cada vez que Saramago publica e os seus leitores lhe caem em cima, melhor seria que pedissem contas ao narrador.

     Há que saudar no romancista, neste em particular, o assumir de todas as responsabilidades. Quem não quiser ser lobo, que não lhe vista a pele!

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