segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

DO MEU DIÁRIO


Biblioteca da Nazaré
       
 
 Lisboa, 13 de Maio de 1994 - Apesar de pequenino, o nosso mundo literário é muito mesquinho e mexeriqueiro. Outra das vítimas da nossa pequenez mental, indiscutivelmente mais dramática do que a física, é José Carlos Ary dos Santos. E no entanto, poucos poetas terão tido um coração tão grande. A quase totalidade dos críticos e dos académicos ignoram-no ostensivamente; outros, decerto os mais cínicos, acusam-no de espontaneidade excessiva e de historicamente datado.

        Daqui a quinhentos anos, se porventura ainda existirem a pátria e a língua portuguesas, Ary dos Santos será estudado não só como artista da palavra; mas, também, enquanto autor indispensável para a compreensão do seu tempo histórico. Trovador de rara inspiração, com uma veia satírica próxima de Bocage, compôs frequentemente sob a pressão do momento; mas, sem perder o rigor formal e sem deixar de escolher a palavra mais adequada e expressiva. Os seus detractores sabem por que o ostracizam.

        Amava-o Deus mais que os homens e por isso o chamou cedo para junto de si, como Pessoa disse de Sá-Carneiro, repetindo o que disse um poeta clássico cujo nome não me ocorre agora.

 



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