segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

DO MEU DIÁRIO



Lisboa, 13 de Maio de 1994 - A ideia do suicídio acompanha-me de há vários anos a esta parte. E no entanto,a Amo a vida na sua imensa variedade e desejo continuar a vivê-la em liberdade (estas assonâncias!). E é na questão da liberdade que entronca a minha obsessão pelo suicídio. Quero, com efeito, viver a vida em liberdade, porque só assim, tal como Camus escreveu em Les Noces, sinto orgulho na minha condição de homem.

        Quero continuar a embriagar-me de sol e de chuva e a rejubilar com a imensidão dos fenómenos da natureza, que nunca pára de nos surpreender; quero continuar a embriagar-me com as palavras, desvendando-lhe diariamente os seus mistérios; quero continuar a embriagar-me com a escrita, construindo com as palavras textos belos, onde os outros possam fruir a alegria de viver. Mas estou convencido que não resistiria a quaisquer situações de ignomínia e de perfídia.

        Com o suicídio sempre presente no meu horizonte imediato, agarro-me ferozmente à vida, vivendo-a, cada dia que passa, com mais intensidade. Talvez se possa chamar a esta atitude pegar a vida pelos cornos.

 

 

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