sábado, 28 de dezembro de 2013

DO MEU DIÁRIO

Mata, 1 de Novembro de 1994 – Gosto de vir à Mata, não para me restaurar do cansaço do dia-a-dia citadino, mas, fundamentalmente, para estar uns dias com os meus pais. Minha mãe já não tem a destreza de outros tempos. Por vezes, consigo ler-lhe nos olhos uma imensa tristeza. Vai fazendo as suas tarefas porque sim, sem alegria. Apesar das drogas, deixou-se vencer pela tristeza. Meu pai continua teimoso como sempre. Gosta do filho e dos netos, mas não é dado a grandes expansões de afecto. Teve sempre uma forma muito peculiar de gostar das pessoas e das coisas. Na Mata, já não tenho quaisquer amigos. Tenho parentes. Vendo bem, nunca tive, no adorado torrão natal, os meus melhores amigos. Conheço as pessoas com mais de trinta anos, nomeadamente os velhos, que me chamam João. Não os hostilizo, mas também não ao apaparico. Uma bacalhauzada, meia dúzia de palavras de circunstância e “c’esttout”. Visito a propriedade mais antiga da família, um naco de terra de horta, povoada, junto às lindas e aos poços, com pereiras, pessegueiros, figueiras, etc. E uma centena e tal de oliveiras. Desta tapada dizia minha mãe muito embevecida: ”dá-se tudo na nossa tapada, filho! É um a espécie de terra-santa”. E para além dos meus pais, pensando a frio, é da tapada que mais gosto. Por ali passaramos meus bisavós paternos, Francisco Lucas e Rosária Brízida, os meus avós paternos, Manuel Barata e Maria, e os meus pais. Andam por ali as minhas raízes mais profundas. Estou desconfiado que a tapada é a minha única e verdadeira Pátria.

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