quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DO MEU DIÁRIO (a)

Paços do Concelho
Santa Iria de Azóia, 23 de Agosto de 2012 – No ano de 1963, fui bafejado com um segundo prémio no totobola, que me rendeu 4.362$20. Este dinheiro, que fui levantar a Castelo Branco com a minha mãe, decidiu definitivamente o meu destino.
     É certo que meu pai, pedreiro de profissão, mas em cujo coração nunca deixou de existir um camponês, queria comprar terra para plantar uma vinha. A instâncias de minha mãe, meu pai desistiu da compra da terra para a plantação da vinha; e, ambos decidiram aplicar o dinheiro na minha educação. No ano lectivo de 1963-1964, preparei a admissão às escolas técnicas; e, no ano seguinte, entrei na EICCB, que actualmente ostenta o nome do sábio judeu renascentista albicastrense João Rodrigues, o Amato Lusitano.
o médico renascentita "Amato Lusitano"
     Eu tive a noção de que tinha ido para a escola dos pobres desde a preparação da admissão. É que as raparigas que foram minhas companheiras na admissão, filhas de pessoas com mais posses, foram direitinhas ao liceu, onde, nenhuma foi particularmente brilhante. A triagem foi feita pelo professor primário, que terá pensado e provavelmente bem, que o filho de um pedreiro aldeão não podia ombrear com os filhos dos donos das terras e dos profissionais livres.
Largo do Espírito Santo
     O Curso Geral do Comércio fi-lo com uma perna às costas. E como era bom aluno (e marrão, também), nos três anos do curso propriamente dito fui sempre bolseiro da Fundação Gulbenkian, que me atribuiu uma bolsa de 400$00, quantia que ajudava muito lá em casa, num tempo em que comer peixe era um privilégio dos pobres.
     Eu era feliz, porque gostava de saber e aprender; e, sobretudo, porque não tive de ir para as obras esfolar as mãos, que era assim que se tiravam os cursos de pedreiro, rebocador, carpinteiro, etc, tal como acontecera com meu pai e com o meu tio Francisco. Tudo graças a um segundo prémio do totobola, numa jornada em que falhei os treze, porque o Sporting foi ao Barreiro perder por 1-0 com o Barreirense.
(a) Este texto tem continuação      

2 comentários:

  1. Deixas-nos muitos e belos poemas Manuel mas, quantas paredes finamente rebocadas se terão perdido?

    É triste verificar que a nossa vida é feita de meros acasos mas, talvez seja isso, que nos impulsiona e não nos deixa parar...

    Afinal, não mudaste assim tanto: Construtor de sonhos em vez de construtor de casas; como toda a gente sonha ter uma casa...


    ResponderEliminar
  2. Hoje vou continuar o texto, no MEU DIÁRIO. E começarás a ver porque o escrevi. Abraço.

    ResponderEliminar