quinta-feira, 24 de outubro de 2013

PÁTRIA - II



Nada devo à pátria e a pátria nada me deve. Saldámos as nossas contas em seis de Outubro do ano de todos os desencontros de mil novecentos e setenta e cinco.

     Eram oito da noite e havia gritos no aeroporto militar do Figo Maduro.

     Dependurado num portão decadente, o João José, ainda criança, acenava-me comovidamente.

     Trazia às costas um saco de pesadas visões e de fragmentos de um império que, tardiamente, muito tardiamente, desaparecia. E que não me deixava saudades, nem azedumes, nem comoções.

     Separámo-nos definitivamente naquela noite de outono e nunca nos voltámos a reencontrar.

     Não temos nada para dar um ao outro, nem eu nem a pátria. As nossas contas estão rigorosamente saldadas.

     Que a pátria seja muito feliz e eu também.

 

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