Nada devo à pátria e a pátria
nada me deve. Saldámos as nossas contas em seis de Outubro do ano de todos os desencontros
de mil novecentos e setenta e cinco.
Eram oito da noite e havia gritos no
aeroporto militar do Figo Maduro.
Dependurado num portão decadente, o João
José, ainda criança, acenava-me comovidamente.
Trazia às costas um saco de pesadas visões
e de fragmentos de um império que, tardiamente, muito tardiamente, desaparecia.
E que não me deixava saudades, nem azedumes, nem comoções.
Separámo-nos definitivamente naquela noite
de outono e nunca nos voltámos a reencontrar.
Não temos nada para dar um ao outro, nem
eu nem a pátria. As nossas contas estão rigorosamente saldadas.
Que a pátria seja muito feliz e eu também.
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