quarta-feira, 23 de outubro de 2013




DILÚVIO - II
 

     Quando já pensava que as águas tinham regressado ao leito do rio; subitamente, o céu voltou a ter as cores plúmbeas que antecederam o grande dilúvio. Dei as necessárias instruções – nunca dei ordens – para minorar os estragos das altas e tempestuosas águas que se adivinhavam.

     No ínterim, chamei a mim a guarda da nossa caixa dos sonhos. Bem sei que o que tem que ser tem muita força – por favor não me macem mais e deixem-me usar os clichés a meu bel-prazer, que também tenho esse direito -, mas decidi que o meu destino ficaria, doravante, ligado àquela adorada caixa.

     Tudo aconteceu como previra, quando olhei o céu e observei o adensar e a negridão das nuvens. Implacável, o céu desabou de novo sobre a nossa casa, qual arca de Noé. Ainda que a força das águas fosse desmesurada para as nossas forças, com a inconsciência dos heróis, voltei a batalhar e, curiosamente a esperar, com a calma possível, que o céu parasse a devastação.

     Foram muitos os dias de inquietação, até as águas regressarem para aqueles mínimos que já não ameaçam a navegação no rio. Pude então dormir de novo a sono solto, tendo junto de mim a nossa bem-amada caixa dos sonhos.

     Até quando?, é a minha mais recorrente pergunta. Até um dia!    

 

Sem comentários:

Enviar um comentário