segunda-feira, 12 de agosto de 2013


TI ZÉ JÚLIO
 

     Era um homem baixo e cheio, que recordo a varrer a rua à frente da sua casa, a rua de Santa Margarida, que começa junto à igreja matriz e termina no Largo do Prata. Usava uma vassoura de giestas quase da sua altura. Não era homem de tabernas. Apreciava mais sentar-se no seu poial a descansar e a ver quem passava. Era um homem bom.

     Dele se conta uma história engraçada, cuja veracidade jamais poderei apurar. E que aqui deixo em pinceladas rápidas, que rápidas quero estas minhas narrativas sobre pessoas da Mata. Esta história terá ocorrido há mais de cinquenta anos, na segunda-feira de Pascoela, que era também o dia principal da festa de S. Pedro. O padre percorria a aldeia, entrava nas casas, dava o Cristo crucificado a beijar e desejava as boas-festas aos moradores e seus paroquianos.

     Um dos organizadores deste cerimonial era o professor Falcão, que, naquele ano, decidiu com o padre, ou sozinho que é a mesma coisa, que o padre com o crucifixo só entrava nas casas dos paroquianos que tinham a côngrua paga. Quando se chegou à porta de Ti Zé Júlio, o professor Falcão sentenciou: “O Zé Júlio, não pagaste a côngrua e, por isso, o nosso senhor não entra na tua casa”.

     Ti Zé Júlio, despachado, foi buscar dinheiro e perguntou: ”Quanto é que eu devo, senhor professor?”. O professor consultou a relação e lá disse quanto era. Ti Zé Júlio pagou e quando se ia afastar, o professor disse-lhe:” Agora, o nosso Senhor já pode entrar na tua casa, Zé!”, ao que Ti Zé Júlio respondeu com prontidão: ”Não, senhor professor. O nosso Senhor não entra na minha casa, porque eu não quero. O nosso Senhor não é de vinganças”.

     E foi assim que Ti Zé Júlio, que usava o chapéu sempre inclinado para trás, deu ao professor, ao abade e restante séquito, uma grande lição. Ah, como eu gostava de ter visto a cara do professor Falcão!

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