quarta-feira, 24 de abril de 2013

DISCURSO

     Muitos de nós que temos mãos e temos pés, muitos de nós que fazemos adeus aos comboios nas estações, muitos de nós que passeamos o conformismo pelas ruas da cidade, muitos de nós, um dia, talvez um dia, saibamos quão inúteis foram os nossos braços, as nossas pernas, as nossas bocas, os nossos ouvidos e os nossos cérebros.
     Talvez um dia, quando violarem o silêncio da nossa inutilidade e já for demasiado tarde, vejamos então como eram irreais os nossos primorosos raciocínios.
     Nesse dia, não haverá lugar para lágrimas e lamentações. Nesse dia, morreremos como cães: sem palavras, sem sonhos, acéfalos, loucos.

Nota- Este texto foi escrito na década de 70 do séc.passado. E foi-lhe atribuído uma "menção honrosa", nums jogos florais da CGTP. O 1º prémio foi atribuído a Domingos Lopes. O júri foi presidido por UTR.

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