sábado, 1 de dezembro de 2012

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 23 de Dezembro de 2002 – O Natal começa a tornar-se uma quadra aborrecida. Anda toda a gente num frenesim desenfreado, como se o mundo fosse a acabar: viagens, prendas, almoços, jantares, jantares, almoços, prendas e viagens. É a loucura quase total. Riem-se os comerciantes de tudo e mais alguma coisa e cantam os industriais da restauração. Esquecem-se por uns dias as carências quotidianas para se gastar o que se não tem.
     Na minha infância o Natal era diferente: minha mãe fazia filhós, cantava-se o menino Jesus à roda dos madeiros e ia-se à missa do galo. No dia de Natal, estreava-se uma camisola ou uma camisa e brinquedos não havia. É verdade que a quadra não transpirava esta fraternidade actual, mas era, quanto a mim, muito mais autêntica.
     D. Quixote eclipsou-se e quem manda agora é Sancho Pança. Temos de esperar que volte D. Quixote, para que a quadra ganhe de novo o seu simbolismo e alegrias tradicionais. Esta fraternidade cheira-me a uma coisa que não vou nomear. Ou se insistem nomeio. Hipocrisia! Arranjinhos de comerciantes e quejandos para desgraçarem as nossas bolsas.
     Aqui ficam três quadras da minha adolescência e juventude, que todos cantávamos do Natal até aos Reis:
                      
                       Ó meu menino Jesus,
                       Ó meu menino tão belo,
                       Logo vieste nascer,
                       Na noite do caramelo!

                        Eu fui dar ‘ma volta ao adro
                        O madeiro está arder,
                        O presépio está armado
                        E o Menino por nascer.

     Lá vai a barca bela,
     Que a fizeram os pastores,
     Nossa Senhora vai nela,
     Toda coberta de flores.

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