sábado, 1 de dezembro de 2012

DO MEU DIÁRIO


Mata, 19 de Outubro de 2002 – Oh, que saudades eu tinha de pernoitar na Mata!
     Jantei com delongas de abade, estive em duas tabernas a que eufemisticamente chamam cafés, dei uma voltinha redonda – passe o pleonasmo - para sentir bem o odor da terra, ainda espreitei a televisão, e, às onze e qualquer coisa, entreguei o corpo a morfeu.
     Durante sete horas dormi o sono dos justos e acordei com o barulho das carroças madrugadoras, que o trabalho é muito e não se condói com preguicites. Fiquei quietinho na cama, tentando reconhecer vozes e ouvindo o canto desafinado dos últimos galos que teimavam em anunciar a manhã.
     No mundo rural o tempo tem outra dimensão. Mesmo quando temos tarefas para executar, chega para tudo e ainda sobra. E não há correrias, que estas fazem mal ao coração e podem-nos ser fatais.
     O que ali mata é o isolamento e a solidão. E se estes rapazes que nos governam, e se arrogam o direito de falar nos superiores interesses da Pátria, decidirem o pagamento de portagens na chamada A-23, maior será ainda o isolamento e a solidão dos nossos pais e parentes, que lhes entregaram de boa-fé o voto, na ilusão de um aumento da reforma e de mais alguma protecção.
     Pobre gente, a minha gente!

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