DOMINGOS
MALATO
Domingos Malato, um rapaz da
minha idade, nunca mostrou grande amor pelas coisas da escola, mas com catorze
ou quinze anos já era um exímio jogador de sueca e de biscas, sim, que as
biscas podem ser de três, de seis e dos nove. E já bebia mais do que muitos
homens, como que confirmando o princípio de que quem sai aos seus não é de
Genebra. Não era mau rapaz; porém, também não se pode dizer que fosse bom de
assoar.
Homem, jovem ainda mas já
com uma calva apreciável, vi-o pela última vez numa festa da Mata, no já
distante ano de 1978. Tínhamos ambos vinte e seis anos e os cardeais tinham elegido
por esses dias o papa João Paulo I, que havia de morrer um mês depois. Mantinha
as feições de sempre e aquele aspecto entroncado e maciço que sempre tivera.
Cumprimentámo-nos
cordialmente, mas sem grandes entusiasmos. Afinal de contas, apesar de termos
sido amigos de infância e companheiros de sueca e matraquilhos, a falta de
convivência acabou por fazer as suas mossas. Porém, nunca deixei de perguntar
ao Ti Mendes Malato, pai do Domingos, com quem joguei também vezes sem conta à
sueca e à bisca dos nove, por notícias do filho. E assim ia matando a curiosidade
que ia persistindo.
Não sei se casou, se tem
filhos, a profissão que exerce. Saiu cedo para França e creio que só terá
voltado a Portugal no pós-25 de Abril. Poucas vezes, ao que julgo saber. Em França
continuará a viver e a ganhar a vida. Cabe inteirinho nestes retratos-quase,
porque não podia deixar de fora o mais precoce jogador de sueca de que tenho
memória.
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