sábado, 18 de janeiro de 2014

DOMINGOS MALATO


     Domingos Malato, um rapaz da minha idade, nunca mostrou grande amor pelas coisas da escola, mas com catorze ou quinze anos já era um exímio jogador de sueca e de biscas, sim, que as biscas podem ser de três, de seis e dos nove. E já bebia mais do que muitos homens, como que confirmando o princípio de que quem sai aos seus não é de Genebra. Não era mau rapaz; porém, também não se pode dizer que fosse bom de assoar.

     Homem, jovem ainda mas já com uma calva apreciável, vi-o pela última vez numa festa da Mata, no já distante ano de 1978. Tínhamos ambos vinte e seis anos e os cardeais tinham elegido por esses dias o papa João Paulo I, que havia de morrer um mês depois. Mantinha as feições de sempre e aquele aspecto entroncado e maciço que sempre tivera.

     Cumprimentámo-nos cordialmente, mas sem grandes entusiasmos. Afinal de contas, apesar de termos sido amigos de infância e companheiros de sueca e matraquilhos, a falta de convivência acabou por fazer as suas mossas. Porém, nunca deixei de perguntar ao Ti Mendes Malato, pai do Domingos, com quem joguei também vezes sem conta à sueca e à bisca dos nove, por notícias do filho. E assim ia matando a curiosidade que ia persistindo.

     Não sei se casou, se tem filhos, a profissão que exerce. Saiu cedo para França e creio que só terá voltado a Portugal no pós-25 de Abril. Poucas vezes, ao que julgo saber. Em França continuará a viver e a ganhar a vida. Cabe inteirinho nestes retratos-quase, porque não podia deixar de fora o mais precoce jogador de sueca de que tenho memória. 

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