terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

EPÍSTOLA XVI

Foto de Aurélio Grilo

Sei que há quem veja nesta escrita, a que pomposamente chamo Epístolas, um qualquer processo de catarse. E talvez seja, mas a minha intenção é, antes de mais, a de dar continuidade às nossas conversas. Pomposamente escrevi na primeira linha. E tenho quase a certeza de que o advérbio de modo também aparece na primeira linha do ULISSES. Não sei se na tradução de João Palma-Ferreira, se na de António Houaiss. Tenho as duas e recordo-me de ter cotejado ambos os começos.

     De qualquer modo, é de livros que hoje quero falar. Sabes que que nunca tive o hábito de vasculhar. Por isso mesmo, dei-me demasiado tempo para pegar nas “penes” e ver o que lá tinhas deixado. E acabei surpreendido, porque, afinal de contas, havia em ti uma poetisa, que nunca quis sair da concha. Incompreensivelmente, digo eu, adivinhando, todavia, que um dia irias surgir com estrondo. Ainda era pouco e querias mais. Querias o que os deuses não quiseram.

     A descoberta de mais uns quantos textos levanta-me um problema novo. Não poderão continuar no silêncio em que os deixaste, porque poucos ficariam a saber da luta que travaste com as palavras e da beleza que lhes conferiste com a tua aparente serenidade. Haverá, pois, novo livro!

     Um querido amigo teu, e também meu, há-de ajudar-me a encontrar uma editora digna dos teus poemas para que mais gente a eles tenha acesso. Apesar de escassa, a produção que nos legaste merece ter visibilidade, como me sugeriu, em primeira mão, o nosso amigo João Teixeira, que também levantou uma questão engraçada, que é a seguinte: que nome virias a adoptar quando decidisses publicar. Nunca o saberemos.


     Há um caminho a percorrer e há-de ser percorrido com sucesso. Com as ajudas dos amigos, que já deram sobejas provas de quanto de ti gostavam.  

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