quarta-feira, 17 de julho de 2013

TI JOAQUIM ROLO
                                Para o Quim Marques

      Ti Joaquim Rolo foi homem de vários ofícios: trabalhador rural, moleiro, trabalhador rural, ajudante de pedreiro. Trabalhou até muito tarde; e, quando partiu, deixou as contas saldadas com o trabalho. Primo direito do meu avô materno, sempre o tive na conta de um parente.
     Fumador inveterado, mal pressentia a malta nova nas escadas da igreja da Mata, pela madrugada dentro, aparecia imediatamente para saciar o vício e conversar com os mais novos.
     Nunca teve uma palavra desagradável com os rapazes do meu tempo, que tínham idade para ser seus netos. Acolhíamo-lo com carinho e, não raramente, oferecíamos-lhe do que tínhamos par molhar a garganta. E ti Joaquim Rolo não se fazia rogado, porque sempre gostou do seu copinho.
     Calças de agrim, camisa branca de meia manga, sandálias e boné, era a indumentária de verão deste homem de meia altura, magro, voz rouca e marcas de varicela no rosto, que nunca perdeu o hábito saudável de rir e brincar.
     Certo dia, aproximou-se de mim e, com a humildade dos homens simples, pediu-me para lhe escrever uma carta para França, sim, que ainda teve tempo para ser emigrante, durante alguns anos. Para a Caixa Nacional de Reforma Operária, a fim de dar cumprimento a algumas formalidades que lhe foram exigidas. Eu só lhe podia dizer que sim e a carta foi escrita, no próprio dia ou no dia seguinte.
     Ti Joaquim Rolo, fumador inveterado, arranjou uma forma muita sua de me agradecer. Sendo eu também viciado no consumo de tabaco, ofereceu-me o melhor dos isqueiros da minha vida: um isqueiro da marca flaminaire, doirado, com o qual acendi milhares de cigarros.
     Porém, esse isqueiro doirado, da marca flaminaire, que o velho Farinha – uma alcunha proveniente da antiga profissão de moleiro e que havia de ser transmitida ao seu neto Quim Marques - me ofereceu com carinho, não se fez velho nas minhas mãos. Perdi-o numa tarde de verão, no Ninho do Açor, onde fui jogar futebol com outros jovens da  Mata. Ficou no meio da caruma do pinhal onde nos equipávamos, porque o campo do Ninho do Açor não tinha balneários. O isqueiro caiu silencioso e lá ficou.
     E comigo ficou a mágoa de ter perdido o isqueiro flaminaire, o meu “flaminaire” doirado, que me fora oferecido generosamente pelo amigo, e ainda parente, Joaquim Rolo.

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