terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

DA UTILIDADE DO LUTO VISÍVEL



     Quando o meu avô paterno partiu – dele herdei o nome -, usei um fumo negro para cumprir a nossa tradição. Durante seis meses, não dancei e nem sequer saltei às fogueiras pelo S. João.

     Quando o meu avô materno expirou, usei gravata preta na hora de o entregarmos à terra. E confesso que não senti, nem mais nem menos, a sua definitiva partida.

     Quando a minha avó Maria chegou ao fim, não me lembro de ter posto uma gravata preta, porque coincidiu com o dia do casamento da minha afilhada. Porém, assevero-vos que chorei muito o fim de minha avó Maria.

     Faz hoje cinco, cansado de resistir, meu pai deixou-nos. A gravata preta tornou-se inevitável durante horas, porque me competia receber quem dele se despedia. Quando o deixámos na terra encharcada, fui para a nossa casa e tirei a gravata, ainda que por dentro fosse – e continuo a sê-lo – um enorme pranto.


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