segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 18 de Fevereiro de 2013 – O meu falecido pai, que todos os dias, de um modo ou outro, faço reviver, teve diversas profissões: pastor, assalariado agrícola, pedreiro, assalariado num grande centro de jardinagem, novamente pedreiro e, por fim, agricultor por conta própria. Começou aos sete anos de idade, descalço, a guardar rebanhos e só disse não à terra, aos setenta e tal, quando a doença o impediu de a cultivar. Trabalhou em Portugal e em França, morreu de consciência tranquila e de contas saldadas com a Pátria.
     Ouvi nos diversos noticiários, de ontem e também de hoje, que o Doutor Miguel Relvas, um dos nossos iluminados governantes, sugeriu aos jovens, num encontro de jovens, o regresso à agricultura. Curiosamente, o meu pai, que era Doutor só de alcunha, sempre previu o regresso à terra como panaceia para os problemas nacionais. E a ela regressou, com quase cinquenta anos, para, durante mais vinte e cinco, dela fazer brotar frutos doces e suculentos, saborosos legumes e hortaliças. Bucólico por natureza, meu pai foi coerente consigo mesmo até ao derradeiro momento da sua vida.
     Desconhecendo os saberes do Doutor Relvas, que não hão-de ser muitos, tendo em conta o que se sabe do seu percurso académico, creio que lhe fazia bem uma passagem pela agricultura. Lavrar, podar, colher, semear, pulverizar, enxertar, apanhar, regar, etc., talvez lhe conferissem autoridade para aconselhar os jovens. E depois, vistas bem as coisas, sempre saberia conjugar verbos diferentes de cortar e emigrar.
Boa tarde.

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