TI
ZÉ DA BARRUSSA
Teve taberna na Mata, ao cimo da rua de
Entre Bairros e sempre gozou da estima da clientela mais nova. Ti Zé da
Barrussa tinha um certo jeito para lidar com infantes e jovens. Dava-se ao
respeito e era respeitado.
A taberna tinha dois compartimentos
acanhados, onde se jogava às cartas, mas que serviam amiúde para as patuscadas
da juventude. E uma dessas patuscadas era comer peixe do Ponsul ou da ribeira
de Alpreade, apanhado à mão, e que a Ti Luísa estripava e fritava para a
rapaziada. Inda os fritos não faziam mal a ninguém, nem o toucinho salgado, nem
o presunto, nem o chouriço. Tão-pouco o vinho do barril.
Os fregueses – cliente era uma palavra
inexistente no vocabulário dos habitantes da Mata – ao entrar deparavam
imediatamente com Ti Zé da Barrussa para lá do balcão, quase sempre em
movimento naquele espaço exígua de dois ou três metros quadrados, onde tinha
barris e garrafões, o asado e um alguidar com água, onde os copos eram passados
para servirem logo a seguir.
Era um homem calmo com uma calva
respeitável. No Verão, usava camisa branca e ali estava quase todo o dia,
assistindo serenamente às brincadeiras e graçolas dos mais novos e também às
discussões e madurezas dos mais velhos, rapazes e homens de todas as idades,
que mulheres e raparigas não entravam nas tabernas. Ouvia mais do que falava.
A taberna não era a sua única ocupação.
Também tratava dos seus pedaços de terra e nas estações mais frias trabalhava
por conta de outrem. Se a memória não me falha, creio que chegou a ser capataz
de fega, ou seja, encarregado. O capataz apontava as faltas e servia também de
relógio, pois competia-lhe mandar almoçar, pegar e largar o trabalho. Usava uma
vara comprida, que lhe permitia colher uma azeitona que ficasse na oliveira por
um motivo qualquer. E usaria também um apito de madeira, idêntico ao dos
árbitros de futebol, a fim de marcar os já referidos tempos.
Dei-me sempre bem com Ti Zé da Barrussa,
que me tratava cordialmente, pois era seu timbre tratar toda a gente com bons
modos. Certa noite, eu e o João Maria éramos já os únicos clientes, mas não
estávamos muito dispostos a arredar pé. Ti Zé da Barrussa, calmamente,
disse-nos então: “Ó cachopos, está na hora! Eu deixo-vos uma grade de cervejas
e podeis ficar aí no poial até quererdes”. E assim foi. Ficámos até de
madrugada, bebendo e conversando.
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