A Paula Nina
Morão
Às vezes, dou por mim agarrado ao Só de
António Nobre e sinto uma imensa tristeza. Eu sei que parte daquele sofrimento
é fingido, porque todos os poetas são fingidores. Mas usa uma máscara tão
autêntica, tão dramaticamente convincente, que a tristeza de Anto me esfarrapa
todo por dentro.
Às vezes, ponho-me a imaginar António
Nobre, sozinho, nas ruas de Paris, rememorando a igreja de Leça, o mártir S.
Sebastião, o Senhor de Matosinhos... Eu imagino Anto, naquele ambiente moderno
e cosmopolita, corroído de saudades dos manéis, do mar, de barcos, de
fanfarras, eiras, pescadores, camponeses, arraiais.
Às vezes, agarrado àqueles versos que até
parecem conversa fiada, pelos meus olhos perpassa um Portugal beato, atrasado e
rural. Que permanece, cem anos depois de Nobre, apesar de tudo, tremendamente
real.
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