O TEMPO
O tempo – essa coisa misteriosa que se
conta em milénios, séculos, anos, meses, dias, horas e segundos – alguém saberá
ao certo o que é? E no entanto, nada escraviza mais o Homem do que o tempo, que
as gramáticas organizam em passado, presente e futuro, mas que, no fundo, é
apenas passado e futuro.
O tempo – essa coisa estranha que dá
alento aos tiranos e torna precárias as acções dos heróis, que destrói as
verdades eternas dos teólogos e os sistemas infalíveis dos filósofos, que tudo
e todos condena ao esquecimento – alguém saberá ao certo o que é?
No seu perpétuo fluir, o tempo é o tempo,
como diria o delicioso Caeiro.
Para mim, que não sou poeta nem literato,
mas simplesmente um amigo de poetas e literatos, o tempo é o sol a levantar-se
preguiçosamente do Tejo - é assim que eu
o vejo das janelas da casa onde habito- que depois sobe e roda e desce,
devagarinho, para desaparecer por detrás das casas, para de novo se levantar
das mansas águas do Tejo e subir e rodar e descer e desaparecer e de novo se
levantar das mansas águas do Tejo.
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