AS PALAVRAS
Calhou-me em sorte ter de folhear dicionários. De
palavras tem sido feita a minha vida. Com elas tenho feito o que a imaginação
me permite, pouco, certamente, mas tento dar-lhes, sempre, a leveza das frescas
brisas estivais e permitir-lhes os mais ousados voos.
Um dia
disse, com papal solenidade, urbi et orbi,
que com as palavras tudo faço: pinto o céu, pinto árvores, pinto frutos, pinto ruas
e pinto casas. Às vezes, muitas, até pinto a manta. As palavras são o barro, a
tinta, o mármore, a madeira - não deixarei aqui um preguiçoso etc. – com que
vou recriando o mundo.
Com elas digo, todos os dias, a alegria, a
esperança e o afecto; sem elas, não sei o que de mim seria. Outro seria, certamente.
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