DILÚVIO -
II
Quando já pensava que as águas tinham
regressado ao leito do rio; subitamente, o céu voltou a ter as cores plúmbeas
que antecederam o grande dilúvio. Dei as necessárias instruções – nunca dei
ordens – para minorar os estragos das altas e tempestuosas águas que se
adivinhavam.
No ínterim, chamei a mim a guarda da nossa
caixa dos sonhos. Bem sei que o que tem que ser tem muita força – por favor não me macem
mais e deixem-me usar os clichés a meu bel-prazer, que também tenho esse
direito -, mas decidi que o meu destino ficaria, doravante, ligado àquela
adorada caixa.
Tudo aconteceu como previra, quando olhei
o céu e observei o adensar e a negridão das nuvens. Implacável, o céu desabou
de novo sobre a nossa casa, qual arca de Noé. Ainda que a força das águas fosse
desmesurada para as nossas forças, com a inconsciência dos heróis, voltei a
batalhar e, curiosamente a esperar, com a calma possível, que o céu parasse a
devastação.
Foram muitos os dias de inquietação, até
as águas regressarem para aqueles mínimos que já não ameaçam a navegação no
rio. Pude então dormir de novo a sono solto, tendo junto de mim a nossa
bem-amada caixa dos sonhos.
Até quando?, é a minha mais recorrente
pergunta. Até um dia!
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