Lisboa, 13 de
Maio de 1994 - A ideia do suicídio acompanha-me de há vários anos a esta parte. E no entanto,a
Amo a vida na sua imensa variedade e desejo continuar a vivê-la em liberdade
(estas assonâncias!). E é na questão da liberdade que entronca a minha obsessão
pelo suicídio. Quero, com efeito, viver a vida em liberdade, porque só assim,
tal como Camus escreveu em Les Noces,
sinto orgulho na minha condição de homem.
Quero continuar a embriagar-me de sol e
de chuva e a rejubilar com a imensidão dos fenómenos da natureza, que nunca
pára de nos surpreender; quero continuar a embriagar-me com as palavras,
desvendando-lhe diariamente os seus mistérios; quero continuar a embriagar-me
com a escrita, construindo com as palavras textos belos, onde os outros possam
fruir a alegria de viver. Mas estou convencido que não resistiria a quaisquer
situações de ignomínia e de perfídia.
Com o suicídio sempre presente no meu
horizonte imediato, agarro-me ferozmente à vida, vivendo-a, cada dia
que passa, com mais intensidade. Talvez se possa chamar a esta atitude pegar a
vida pelos cornos.
Sem comentários:
Enviar um comentário