Biblioteca da Nazaré
Lisboa, 13 de Maio de 1994 - Apesar de pequenino, o nosso mundo
literário é muito mesquinho e mexeriqueiro. Outra das vítimas da nossa pequenez
mental, indiscutivelmente mais dramática do que a física, é José Carlos Ary dos
Santos. E no entanto, poucos poetas terão tido um coração tão grande. A quase
totalidade dos críticos e dos académicos ignoram-no ostensivamente; outros,
decerto os mais cínicos, acusam-no de espontaneidade excessiva e de
historicamente datado.
Daqui a quinhentos anos, se porventura
ainda existirem a pátria e a língua portuguesas, Ary dos Santos será estudado não
só como artista da palavra; mas, também, enquanto autor indispensável para a
compreensão do seu tempo histórico. Trovador de rara inspiração, com uma veia
satírica próxima de Bocage, compôs frequentemente sob a pressão do momento;
mas, sem perder o rigor formal e sem deixar de escolher a palavra mais adequada
e expressiva. Os seus detractores sabem por que o ostracizam.
Amava-o Deus mais que os homens e por
isso o chamou cedo para junto de si, como Pessoa disse de Sá-Carneiro,
repetindo o que disse um poeta clássico cujo nome não me ocorre agora.
Sem comentários:
Enviar um comentário