FILIPA BARATA
ficarei a noite inteira por detrás desta janela
sem vidros
o vento fere-me
estou só e sinto frio
de olhos postos na noite
recordo o dia
ouço-nos correndo pelo caminho abandonado
ao sol de verão
olho nas mãos as manchas de sangue
das amoras que colhemos na velha amoreira – frondosa de
incertezas
junto à igreja
recordo os rostos
de pedra enrugados,
rostos de sol de
chuva de vento
estão à porta das casas
na tarde quente
olham com estranheza quem chega
pelas ruas escuras de casas quase
em ruínas
emerge o cheiro do estrume e da
solidão
ali estão
esquecidos pelo tempo
petrificados pelo desejo de pertença
ao que já não existe
são poucos mas
por lá estão
quase encostados uns aos outros
quase em fila estáticos
de olhos de peixe mortos
tentam fixar-me …
desvio o olhar
mas sei que ainda agora
lá estão assim:
à espera da morte – que tarda?
28.02.07
inédito
Lindo, linda Filipa.
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