FILIPA BARATA
Descia a rua com passos incertos àquela hora da tarde de um Outono pálido e inodoro. Pensava nas coisas que aconteciam à sua volta e de como isso não a incomodava minimamente. Seria egoísmo? Perguntava-se.
A
noite passada deitara-se tarde. Tinha fumado bastante e sentia agora as
consequências disso. Sentia-se ligeiramente ensonada. Apanhar o autocarro ou um
táxi? Quem era aquele homem solitário posto à beira de um passeio? Em que
pensava? Andar pela rua tornara-se de facto, em certos dias, insuportável. Assistir
à miséria de quem pede, acenando com coisas que por vezes nem chegamos a saber
ao certo o que são com medo de vermos. Com medo de ficarmos com os olhos
demasiado abertos. Não esses que temos na cara, mas os que guardamos dentro de
nós.
Uma
profusão de olhos dentro da barriga que nem sempre nos impedem de fazer coisas
erradas.
Como
se arquitectam frases? Como projectar sentidos? Linhas de mãos e pés, dedos
sobre as coisas do corpo que não oferece resistência
Empresto
a boca ao som que quer sair
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