FOTO WIKIPÉDIA
Lisboa, 9 de Abril de 1997 - Allen Ginsberg morreu. De cancro no fígado, noticiava o quotidiano “Manhã Popular”, no primeiro dia da sua vida. Notícia breve, sem grandes detalhes, como convém a este tempo histórico, suposta e efectivamente dominado pela informação. Prefiro o pouco ao nada, todavia. De resto, por que se havia de dar notícia exaustiva da morte de um poeta americano que ninguém conhece? E por que carga-de-água se havia de ressuscitar um poeta subversivo, que o tal mundo da informação já tinha matado há décadas?
Companheiro de geração de Gregory Corso, James Kerouac e Lawrence Farlinghetti, entre outros, foi uma das vozes mais fortes e eficazes do pós-guerra, na denúncia dos pseudo-valores da América. Esta voz singular, que soou um pouco por todo o mundo, calou fundo nos corações dos homens amantes da paz e da concórdia entre as nações, num tempo marcado por grandes clivagens ideológicas.
Com Allen Ginsberg - uma das vozes mais autorizadas da “beat generation” - morre uma das consciências críticas da América contemporânea, como se pode inferir da leitura dos versos que aqui transcrevo:
América quando é que enviarás os teus ovos para a Índia?
Estou farto das tuas exigências loucas.
Quando poderei eu entrar no supermercado e comprar tudo
O que preciso com a minha beleza?
Ou ainda estes também do poema “América:
América quando serás tu angélica?
Quando é que te despes?
Quando é que olharás para ti através do sepulcro?
Quando é que serás digna do teu milhão de trotzkistas?
América porque estão as tuas bibliotecas cheias de lágrimas?
Que a terra lhe seja leve, como leves se tornaram na sua voz as palavras, duras e preciosas como diamantes.
Sem comentários:
Enviar um comentário