CASTELO
BRANCO
O senhor Pudico usava
gabardina, no Inverno, como o inspector Colombo de uma série televisiva, e
chapéu todo o ano, por respeito à convenção. O Outro, já não me recordo se
tinha gabardina, mas também usava chapéu. E óculos para poderem ver melhor os
títulos subversivos, que um tal Vilhena teimava em publicar: O Filho da Mãe, Marmelada, A Vaca Borralheira,
As Canetas dos Amantes, etc. E quedo-me por aqui para não alongar o rol.
O senhor Pudico e o
senhor Outro, que levavam a sua nobre missão a sério, eram pessoas muito sós,
porque, lá bem no fundo, só se tinham um ao outro. A cidade olhava-os com
desdém, porque o senhor Pudico e o senhor Outro eram o retrato vivo da
vigilância, num país vigiado até nas coisas mais simples e íntimas.
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