BENDITAS
SEJAM AS NOSSA OLIVEIRAS
Viram-te nascer e conhecem de cor os teus
segredos. Foram a tua companhia, silenciosa e segura, durante centenas de anos.
Deram-te sombra, nem sempre boa, é certo,
nos tórridos dias do verão; a luz possível, antes do advento da eletricidade; o
calor nos invernos, às vezes, tão longos e rigorosos; o tempero para a panela
pobre, que tornava o feijão e a couve menos ásperos; o dinheiro para muitos dos
restantes e indispensáveis bens.
E como a generosidade foi recíproca,
também é justo que não olvidemos o muito e aturado trabalho, e até servidão,
que foram exigindo a sucessivas gerações.
De qualquer modo, moldaram-te o carácter.
Com elas aprendeste a mansidão e a austeridade. Por isso mesmo, nunca foste
dada a sobressaltos e a paixões. Em toda a minha vida, apenas ouvi falar de um
crime passional, perpetrado por um homem, a quem o amor de uma mulher não quis
servir. Foi muito antes de eu ter nascido e já passei há muito pelos cinquenta.
Benditas sejam para sempre as nossas
oliveiras!
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