DISCURSO
Muitos de nós que temos mãos e temos pés, muitos de nós que fazemos adeus aos comboios nas estações, muitos de nós que passeamos o conformismo pelas ruas da cidade, muitos de nós, um dia, talvez um dia, saibamos quão inúteis foram os nossos braços, as nossas pernas, as nossas bocas, os nossos ouvidos e os nossos cérebros.
Talvez um dia, quando violarem o silêncio da nossa inutilidade e já for demasiado tarde, vejamos então como eram irreais os nossos primorosos raciocínios.
Nesse dia, não haverá lugar para lágrimas e lamentações. Nesse dia, morreremos como cães: sem palavras, sem sonhos, acéfalos, loucos.
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