Ana Pinto, excelente poeta e pintora, é um nome para reter,
ou seja, um nome que não pode ser esquecido. Publicou recentemente OS SELOS DA ROSA, um
livro com quarenta e seis poemas, onde se afirma definitivamente uma voz
original, eu diria mesmo ímpar, tal é a riqueza do seu modo de se exprimir
poeticamente e dos temas poeticamente tratados.
É difícil encontrar uma tradição, uma
família poética, para Ana Pinto. A sua árvore genealógica, a existir,
confinar-se-á a meia dúzia de poetas – ou nem tantos – que continuou a beber na
Grécia Antiga e também nos livros da Bíblia. Helenista convicta, Ana Pinto
dedica o sexto capítulo do seu
livro aos poetas, começando com o texto Ao Poeta , seguindo-se Rilke, Sofia, Maria do Sameiro Barroso, Albano
Martins, António Salvado, António Ramos Rosa e Herberto Hélder. Creio não ser
esta a ordem exacta, mas significativas são as escolhas e não a ordem como
surgem na obra. A escolha recaiu em grandes poetas, alguns ainda vivos –Salvado,
Albano Martins, Mª do Sameiro Barroso e H. Hélder – que têm entre si o gosto
pelo mundo helénico.
Os elementos fogo, água e terra, estão
permanentemente presentes, criando verdadeiros campos semânticos para cada um
deles, nomeadamente para o fogo e a água, que vêm do fundo dos tempos
pré-socráticos como as veras fontes da vida. A actividade pictórica de Ana
Pinto empresta-lhe não raramente as palavras que colorem os seus versos,
tornando-os verdadeiramente luminosos. Não é por acaso que a palavra ouro surge
inúmeras vezes ao longo do livro, em diversos poemas. Como importante são os
conjuntos trevas/luz, noite/dia e terra/mar, que remetem o leitor para o
trabalho do poeta, ou seja, para a recriação do mundo e concomitantemente para
a cosmogonia cristã, primeiro e segundo dias.
E para terminar, a utilização da palavra
“palavra”, por vezes no plural, isto é, o veículo através do qual tudo se
nomeia, conferindo uma ordem ao mundo e permitindo a expressão de sentimentos e
emoções.
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