terça-feira, 28 de janeiro de 2014

MANUEL JOÃO VIEIRA


     O Dr. Manuel João Vieira, velho democrata albicastrense, foi professor na antiga Escola Industrial e Comercial de Castelo Branco, a actual Amato Lusitano, onde leccionou as disciplinas de “noções de comércio” e de “direito comercial”. E até talvez de “economia política”. Nunca foi meu professor, porque Manuel João Vieira só leccionava à noite e eu era aluno do ensino diurno. Mas foi professor de amigos meus, que diziam maravilhas do então ainda quase jovem causídico.
     Tive o ensejo, no entanto, de executar tarefas eleitorais, no seu escritório da Rua D. Dinis, em Castelo Branco. Foi no já longínquo ano de 1969, na chamada primavera marcelista, mas em que permaneciam activos e vigilantes todos os organismos repressivos do Estado Novo. Naquele 1º andar era um corrupio de gente, gente com mais responsabilidades, gente com menos responsabilidades; porém, gente que, generosamente, lutava pela liberdade e pelo fim do regime fascista. Para mim foram dias empolgantes.

     No escritório do Dr. Manuel João Vieira cruzei-me com o Rocha, que mais tarde havia de ser funcionário do tribunal, com o Elias Martins que cumpria serviço militar no BC-6, com o Raul Paulo de quem continuei amigo durante muitos anos e com outros jovens. Para além de termos copiado os cadernos eleitorais, os jovens apoiantes da CDE – eram candidatos por Castelo Branco Alçada Baptista, Domingos Megre, José Rabaça e Manuel João Vieira – ajudavam ainda em tarefas hoje impensáveis como meter o boletim de voto num envelope e endereça-lo ao eleitor a  quem o regime concedia o direito de votar.



     Recordo-me do comício do Cine-Teatro Avenida, completamente cheio e com apoiantes no exterior do edifício. Não me recordo dos discursos, mas sei que Alçada, que mais tarde se tornou um amigo de Marcelo, empolgou a pequena multidão. O mesmo terá acontecido com os restantes candidatos que, com a excepção de Manuel João Vieira, deixei de acompanhar.
     Nos primeiros dias de 70 juntei-me aos meus pais nos arredores de Paris, onde permaneci vinte meses. Regressei e ainda cumpri serviço militar obrigatório. Reencontrei o Dr. João Vieira já depois do 25 de Abril, no remanso do seu escritório. Fui para uma consulta, cuja matéria eu já tinha estudado, mas queria ter uma opinião de homem de leis. Apresentei-lhe o caso e disse-me o que entendia. Falámos de outras coisas e rememorámos aquele de outono de 1969. Não me levou dinheiro pela consulta e creio não o ter voltado a ver. Mas nunca esqueci, no entanto, aquele seu trejeito de abanar o pescoço.
     Ao escrever este texto, até parece que estou a ver Manuel João Vieira a atravessar o passeio vermelho a caminho do Vidal.
    


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