Santa Iria de Azóia, 26 de Dezembro de 2012 – Com alguma regularidade, o Acordo Ortográfico é chamado às páginas dos jornais. É hoje o caso do Correio da Manhã, que traz à actualidade o maior instrumento de divisão entre os utentes da língua portuguesa.
Este vosso amigo, que já não teme os erros de ortografia, continuará a utilizar a grafia anterior ao acordo assinado em Lisboa em 16 de Dezembro de 1990. Por uma questão de princípio, que radica na convicção pessoal de que estas coisas das línguas, faladas e escritas por muitos povos, não se resolvem por decreto.
Eu estou convencido de que a língua portuguesa jamais terá condições de unificação, quer pela variedade de povos que a utilizam, quer pelas grandes descontinuidades geográficas dos territórios onde é falada. Felizmente, em vários continentes.
Poder-se-á argumentar com a globalização, com as novas tecnologias, com a vontade dos Estados, etc. Tudo isto é verdade, mas esta verdade não se pode sobrepor à vontade dos utentes que usam e recriam continuamente esta velha “flor do Lácio”, como lhe chamou Olavo Bilac. Uma das maiores riquezas da língua portuguesa está precisamente nas suas múltiplas variedades. Querer unificar o que não pode ser unificado é mera perda de tempo.
Esta unicidade poderia ser benéfica para banqueiros e exportadores de alcachofras; porém, nunca o será para os falantes e utilizadores do código escrito. Se os “romanos” não conseguiram unificar a língua de Virgílio, por que razão terá que ser unificada a língua de Camões?
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