segunda-feira, 18 de março de 2013

DO MEU DIÁRIO

Foto desta tarde

Lisboa 3 de Maio de l994 -Vai realizar-se ainda este mês, o congresso «Portugal que Futuro?». Far-se-ão, seguramente, comunicações brilhantes. Far-se-á, certamente, o levantamento das nossas carências e potencialidades. Far-se-á, em suma, um diagnóstico do actual estado de coisas, etc. Seguir-se-ão as exegeses mais ou menos profundas; mais ou menos clarividentes; mais ou menos obtusas. Ficar-se-á, contudo, com a sensação que desta é que é.
        Estes congressos ocorrem, de quando em vez, com a intenção de repensar Portugal. Um professor catedrático abordará a problemática do ensino; um jovem escritor falará de literatura e da arte em geral; outro académico falará das perspectivas económicas até ao final do século; um constitucionalista dissertará acerca da necessidade da adequação da Constituição da República aos desafios futuros; os políticos de serviço exaltarão as virtudes do sistema, ainda que realcem a fragilidade do sistema democrático, etc.
        Os panegiristas mais inflamados, não tardará muito, cairão no mais profundo desencanto, por incapacidade própria de compreender o país real: uns suicidar-se-ão; os restantes promoverão uns jantarinhos de confraternização, para carpir as suas desilusões. É verdade que o tempo em História não é circular, mas por vezes colhe-se a amarga sensação de que também não é rectilíneo. Ao evento poder-se-ia chamar “Conferências Democráticas do CCB”, mesmo que Eduardo Lourenço não rime com Antero de Quental ou Saramago com Eça.
        Oliveira Martins continua actual: Portugal, enquanto país com iniciativa histórica, morreu em 1580. Regressámos ao velho rectângulo peninsular, mas sem os varões de 1383-1385; sem os nautas que sulcaram os mares do planeta; sem os Albuquerque e os Castro que construíram o formidável império do Oriente. Porque somos rudes e nos remetemos a «ua apagada e vil tristeza».

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